Thursday, March 29, 2007

12-Querida Lena...

Querida Lena,

19 velas, é sempre um marco bonito
Não sendo muito nem tão pouco

Dá pra celebrar e recordar
Família, amizades e prioridades

Mesmo sem muita engenharia
Hás de lá chegar facilmente,
Por entre obras e pontes de felicidade
Que tão bem saberás erguer da vida

Pessoa, o Fernando, ou
Germano, o Almeida
Teriam melhor prosa pra te
Felicitar neste dia

Mas a alegria de te cruzar
Neste vai-e-vem imprevisível
Por estas ilhas que não sabemos amar
Sem criticar

Vale tudo, permite até
Estes amadorismos ousados
De quem não encontrou outra forma
De te dizer…

PARABÉNS A VOCÊ
NESTA DATA QUERIDA
MUITAS FELICIDADES
MUITOS ANOS DE VIDA…

(Milton Paiva, Praia, 29 de Março 2007)

Tuesday, March 20, 2007

11-Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias...

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra diante vai ser diferente.

(Carlos Drummond de Andrade)

Um Feliz Natal e tudo de bom e de óptimo em 2007,
Ângela R

Monday, March 19, 2007

10-Midju-Brancu, o ya o ya ya, o ya ya ya yaaa...

E mi qui bem
Qui bem di Midju-Brancu
Es flam badiu di fora
Toma cuidadu ku piratinhas

Piratinhas
Rabatam nha fresquinha
N'poi rostu pa fora
Ku ranhu ku lágua n’ ódju

Kantu n’sai
Qui n'bem(bai) pa Portugal
Mama dja flaba mi
Ma studu e sacrificiu

Oh es flam
Si n'bem(bai) pa n'torna bai (bem)
N flas ma mi n’ta bai (bem)
Ma nha raiz me la (li) qui sta

Abri odju mos
Tra mo di quexada
Bu terra si bu ka bai (bem)
Es me qui ta torna bai (bem)

Oi ya, o ya ya, o ya ya ya yaaaa
(2x)

Ami racismu
Kel go n'ka inxinadu
Contra racismu
Kel go n'ka vacinadu
(2x)

Oi ya, o ya ya, o ya ya ya ya
(2x)


E mi qui bem
E mi qui bem
Qui bem di Midju Brancu
Ma mi n'ta bai (bem)
Ma mi n'ta bai (bem)
Ma mi n'ta bai (bem)
Ma nha raiz me la (li) ki sta
(2x)

M.Paiva
(Batucu, Lisboa, 2000/01)

9-Pincelando e (poe)mando votos...

Praia, 23 Dez 2005

Nesta quadra festiva
repensei em vocês
nestas amizades
e caminhos cruzados
que só o mar separou
antes de cá
e agora de lá

Lembrei-me que
mais do que
qualquer outro presente
vocês estão presentes
e que mais do que
outro gesto
merecem este

Simples
breve
improvisado

Mas mensageiro
dos meus sinceros
votos

BOAS FESTAS
FELIZ ANO NOVO

JOYEUX NOEL
BONNE ANNEE

MERRY CHRISTMAS
HAPPY NEW YEAR

M.Paiva

8-Discours de clôture du S-Général de l'ONU (M.Paiva)

DISCOURS DE CLOTURE DU S-G DE l’ONU
Conférence de Stockholm pour la relance du dialogue Nord-Sud[1]
Du 29 mars au 1er avril 2005




Mme la Présidente,
Mme la Secrétaire Générale,
Mme le Rapporteur,
Mme la Secrétaire Générale de la CNUCED
Mesdames et Messieurs les honorables Ambassadeurs,

Permettez-moi tout d’abord de vous féliciter au non des Nations Unies pour votre brillant travail, et de vous réitérer toute ma joie de participer à cette conférence.

Permettez-moi aussi de féliciter toutes les délégations ici présentes, pour leur travail, efforts et esprit de conciliation.

Mesdames et Messieurs,

A l’occasion de l’ouverture de cette Conférence, je vous ai incité à vous fixer des objectifs ambitieux, voire difficiles.

Je vous ai même invité à oser changer l’histoire, comme l’ont fait plusieurs résolutions, adoptées à l’issu de négociations diplomatiques multilatérales.

Dans ce discours d’ouverture, je vous ai parlé aussi du développement, du commerce, du droit, des réformes, des chiffres, de la bonne gouvernance…

Pour la clôture de cette honorable assemblée, et après avoir entendu les déclarations de nombreux Etats, je me permets de ne pas revenir sur le fond même de la résolution. Par sa clarté, autorité et poids politique, la Résolution de Stockholm pour la relance du dialogue Nord-Sud, constitue un message réaliste, progressiste et chargée d’espoir pour les « peuples des Nations Unies».

Hier soir, suite à la fin des travaux des Commissions spécialisées, je n’ai pas pu éviter de me poser la question suivante : a-t-on changé l’histoire à Stockholm?

(pause +)

Je me suis dit que l’objectif ainsi établi était, peut-être, très élevé voire imprudent.

C’était une imprudence compréhensible, car un Secrétaire Général de l’ONU doit être forcément quelqu’un qui croit en des objectifs difficiles.

De Doha à Monterrey, et puis à Stockholm, la Communauté internationale avance pas à pas, petit à petit, dans le dialogue Nord-Sud.



Chers ambassadeurs,

Permettez-moi de comparer ce dialogue à un poème, et les articles de la résolution à des versets par lesquels le Nord et le Sud racontent leur amour réciproque. Leur entourage croit, de plus en plus en un mariage dont Mme l’ONU, marraine de cet événement, qui ne cesse d’en parler à tout le Monde.

Honorables,

Je voudrais terminer en citant une phrase d’un ancien Président de la République de la Côte d’Ivoire (Félix Houphouët-Boigny), invoquant un sujet qui est cher à cette conférence ainsi qu’aux Objectives de Développement pour le Millénaire (ODM): la lutte contre la faim.

Mesdames et Messieurs,

(je cite) «Un homme qui a faim n’est pas un homme libre »


Je vous remercie.

Milton PAIVA
Ambassadeur de la Côte d’Ivoire
Secrétaire Général de l’ONU















[1] Simulation de Conference diplomatique multilatérale, étudiants du DESS d’Administration Internationale, Universités Panthéon-Sorbonne (Paris I) e Panthéon-Assas (Paris II), Promotion 2004/05

Thursday, March 15, 2007

7-Mala diplomática electrónica - nº 1 (nov. 05)

Mala diplomática electrónica – n° 1
Novembro 2005

Caros amigos. Há já 6 dias na minha terra natal, ressurgi para vos tranquilizar e dizer que estou ligeiramente mais bronzeado, que ainda não cortei o cabelo, que tenho saudades vossas e que continuo a sentir-me de cá e de lá...
Fora o calor um pc exagerado neste momento, muitos cortes de energia eléctrica e estradas bastante perturbadas pelas muitas obras do gov(de ultima hora? eleições em 2006...), só teria coisas boas a contar.
O inicio do meu estágio foi adiado de uma semana (22 em vez de 15) pq o meu mestre estará ausente para uma missão de formação no Tarrafal.No entanto, desejoso por abraçar a causa onusiana, comecei não oficialmente desde o dia 15. Passei os 1ºs dias a ler relatórios no Centro de Doc e Infos da ONU cv, até que hoje tive direito a um pequeno gabinete bem simpatico e individual, donde vos escrevo tão retardado mail, já em horario pós-laboral (trab 8h -16h) pois já são16h15 locais.
Como não podia deixar de ser, pude relembrar pequenos prazeres como ir até praia-abaixo, tocar uns acordes c/ o meu primo por entre uns pastéis e ponches da terra, bem como rever amigos e colegas de outros tempos...
Das conversas de rua retive que, para uns, Cabo Verde está na moda e, para outros, Cabo Verde está na m...
Ainda é cedo para cimentar a minha opinião mas, para já, vou concordando c/ as duas teses: parece-me que estamos na moda e na m....
Falta fazer muita coisa para que a maioria das pessoas viva melhor mas o optimismo natural das gentes faz c/ que haja ainda assim muita festa e estilo...
E pronto, foi o primeiro postal da praia, remetido em mala diplomática electrónica, para dizer que não me esqueci de vocês.

Cabo-verdianamente

Milton Paiva

6-O Paradeiro do Blogueiro...

“Milton,
Há quanto tempo... E que saudades do ano inesquecivel em Paris... e dos teus concertos nocturnos!
Que é feito de ti? Onde andas e a fazer o que??? (podias acrescentar isso no blog... ;))
Continuo em Frankfurt no BCE por mais uns meses e em Setembro vou para Londres fazer o mestrado...
Quando vamos ter oportunidade de nos vermos?? Vou ter que te ir visitar a Cabo Verde??
Beijo e saudades,
Joana” (email, 15.03.07)

Olá Joana
Olá todos

E é desta forma original que aproveito a deixa da Joaninha para vos deixar breves novidades acerca do meu paradeiro.

Isto claro, mais para aquelas amigas & amigos que o tempo e o espaço se encarregou de nos separar, pelo menos, provisoriamente...

Antes disso, repito e reponho aqui aquelas breves palavras que vos enviei por email, a titulo de justificação e objectivos do “3d”:

“Sei que temos sido uns esquecidos(eu e vcs ...) e que não importa de quem é a culpa.
Confesso que a tecnologia tanto me tem ajudado como dificultado, tanto me tem aberto como fechado amizades e horizontes. As possibilidades de vos contactar, falar, escrever, ouvir são tantas que...não tenho conseguido escolher a melhor ou, talvez mesmo, uma única...
Cansado da minha própria ingratidão e apatia diante de tamanhas possibilidades e do admirável mundo novo, tomei a iniciativa de fazer x em 1: criar um blog para, a cada novo post, pensar que vos liguei a todos, que fomos falando e murmurando e que sempre soubemos uns dos outros e sempre estivemos tão perto.”(email 14.03.07)

Dizer que a vida não corre mal para os lados de Cv e que, apesar das saudades e memórias transnacionais, que apertam não raras vezes, continuo a descobrir e a “encarar a vida como uma criança deslumbrada, que parece que nunca tinha visto...” (+ - isso, dixit a Carolina, pt a viver na Praia)

Por entre

I. Boémia (omnipresente durante meses a fio nos acontecimentos praienses, titular da equipa, camisola amarela, pivot. Até que enfim já começaram a dizer (desde janeiro 07, inicio activ. Prof) “eh pa, não te tenho visto, andas desaparecido...”)Ainda assim vou dando luta e comparecendo em bastantes.

II. Juriscoisas ( 1- prof. Assistente no novel Instituto Superior Ciências Jurídicas e Sociais (ISCJS), 2 - Assessor jurídico da Agência de Regulação e Supervisão do sector Farmacêutico e Alimentar (ARFA) e 3 – Consultor Jurídico associado “David Hopffer Almada & Associados (www.dhopfferalmada.cv)

III. Politicoisas (membro da Direcção Nacional do Movimento para a Democracia(MpD, partido político liberal) e da Juventude para a Democracia(JpD) desde a VIII Convenção); e

IV. Musicoisas (suspendi por uns tempos os mini-concertos mas espero trazer novidades um dia destes...)

Se vai fazendo o homem (e o 'bandido' saudável...) na expectativa de daqui a 6 meses, daqui a 5 anos, aos 60 anos ser...o mesmo sem ser apenas isso.

Amicalmente.

Milton Paiva

5-Co-apresentação do livro -MARCAS DEIXADAS, M.A.S.A

Co-apresentação do livro – “MARCAS DEIXADAS”

Maria Antonieta Sena Afonseca
Edição 2006
Imprensa Nacional


Boa tarde a todos.

I
Antes de mais, gostaria de felicitar de forma muito veemente a Autora e de agradecer com muito carinho o convite que me endereçou para participar da apresentação deste seu livro.


II

De seguida, gostaria de proferir breves palavras de enquadramento, sobre o papel que me coube nesta cerimónia e sobre a relação que tenho e sinto com a obra e com a Autora.

O papel que me coube

Encontrei-me há dias com o dr. Cláudio Furtado para falarmos sobre esta apresentação, e decidimos que ambos seríamos afinal apresentadores da obra (o 1º convite era para eu ser comentador), fazendo ele uma leitura mais transversal (e talvez sociológica?) e eu, uma leitura mais impressionista.

Simpatizei-me de imediato com o papel que acabara de me ser atribuído, por duas razões principais:

i) 1º porque daquilo que percebi do impressionismo, trata-se de uma abordagem que busca impressões mais fugitivas e imediatas na obra sem grande recurso à premeditação ou reflexão de fundo. Aliás, li que a corrente impressionista está intimamente ligada a uma Escola de Pintura do sec. XIX, que se preocupava essencialmente com a análise da cor mais do que eventuais mensagens de fundo por detrás do jogo de cores. Nessa perspectiva, minha leitura é talvez a mais fácil porque impressões subjectivas todos terão facilmente ao ler. Desta forma, evitei também ter de fazer incursões para o campo mais complexo das Ciências Sociais sobre alguns dos temas de fundo tratados como sejam as problemáticas da pobreza, da mulher, da infância, etc;
ii) Simpatizei-me com este meu papel também porque, tendo partilhado o mesmo espaço geográfico e comunitário com a Autora e estado a ela ligado por laços de parentesco, a minha tentação para fazer impressões das personagens, lugares e algumas ideias implícitas na obra, é maior e talvez o dado mais interessante do meu olhar de leitor sobre a obra.

III

Indo mais directamente para a leitura da obra, resumi a minha breve intervenção sob um título que eu chamei de impressões gerais e especiais. Confesso que, não sei se prudente ou imprudentemente, nunca falei com a Autora sobre o conteúdo desta obra. Ela própria sentir-se-á porventura surpreendida com as impressões que vos vou comunicar! Até porque era mais interessante assim, não correndo o risco de ver as minhas impressões influenciadas pelo pensamento real da Autora.



Impressões gerais e especiais


Denúncia (1ª impressão)

Ao terminar a leitura da obra, dei comigo mesmo triste a pensar e a recordar episódios e situações tristes relatadas na obra e muito presentes no nosso dia-a-dia e no de muita gente. A primeira pergunta que fiz para mim mesmo foi a seguinte: porque quererá a Autora dar tanto realce a estes temas de fundo tanto tristes e negativos? Conhecendo pessoalmente a Autora e a sua matriz educacional e filosófica, não poderia ter concluído outra coisa senão que não era realçar para elogiar mas sim realçar para denunciar e criticar.


O Realismo sobrepõe-se à Ficção ao longo da obra

Ao longo das sete estórias ou capítulos do livro foi incrível constatar o quanto aqueles relatos e episódios eram reais; Desde o capítulo intitulado “Pobreza na minha terra”, passando pelos outros - “A vida do menino”, “A mulher que eu conheci”, “Marcas deixadas”, “O peso de uma vivência”, “As romarias dos santos” a, finalmente, “O fenómeno da morte”, algumas personagens, lugares e estórias pareciam claramente reconhecidos por mim; inclusive no meu exemplar do livro tomei nota a lápis de alguns nomes de pessoas e lugares que eu achei serem os visados. Os únicos dados que me pareceram ficção (como aliás convinha) eram os nomes de pessoas e animais. Aliás notei uma clara não utilização de nomes próprios para as personagens e lugares. Os raros casos (se não me enganei) foram os da personagem “Beto” e do cão “Rabisco” (o menino e o cão da estória nº 2): Não se atribui também nomes próprios aos lugares, excepto o caso da Ilha (ref à Ilha de Santiago Menor na estória nº 6). De resto, a Autora situa quase sempre as estórias em lugares indeterminados como “A Ribeira”, a “Freguesia”, “entre cutelos”, etc.


Passagens claramente autobiográficas

Essas passagens, pelo menos duas, estão na estória nº 7 intitulada “O fenómeno da morte”. Por duas ocasiões a Autora refere-se na primeira pessoa à morte da mãe e do pai. Logo no início do 1º parágrafo (ref morte da mãe) e de forma um pouco mais indirecta no início da II parte da estória nº 7 (a morte do pai); No primeiro caso não estive, porque ainda não era nascido, mas estive no segundo. Revi-me na parte final da p. 59 quando a Autora fala, num dado momento, da “bonita velhice” do pai, cujo nome não menciona mas que muitos dos presentes conheceram e reconhecerão no texto. Essas passagens exprimem uma certa resignação da Autora ao fenómeno da morte, fenómeno ao qual ela se refere como sendo “a continuação da vida” (p. 60); Achei bonita e ao mesmo tempo fatalista e pessimista uma outra frase desse capítulo segundo a qual “ toda a criatura cresce para a morte” (msm p. 60).


Agradável surpresa quanto à qualidade do estilo de escrita utilizado


Apreciei especialmente algumas formas de dizer, a capacidade e beleza descritiva de algumas passagens e certas explicações ou definições.

i) Sublinhei por exemplo uma frase curiosa na p. 17 quando, ao relatar estórias sobre a Pobreza lê-se que (cito) “Igual ao resto do mundo, naquela Ribeira estava-se a viver em pleno século XX, o século considerado do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da democracia, da globalização, da civilização e da cultura, do bem-estar...” De facto e infelizmente, em muitos aspectos parece que nas nossas Ribeiras vive-se num outro século, muito mais recuado no tempo do que este!

ii) Sublinhei outra passagem interessante na p. 45 onde, a propósito da violência doméstica contra a mulher a Autora refere-se a essa violência como sendo (cito) um “discurso surdo” que sai “pela calada da noite, quando apenas poderiam assistir ao espectáculo quem como os grilos e a escuridão, (são) testemunhas que não tinham vozes para fazer eco…”


iii) Achei também interessante o conceito de “empréstimo sem devolução” referindo-se à vizinhança que pede uma colher de açúcar, uma pitada de sal e uma mão de arroz, sem quaisquer possibilidades de devolver o emprestado (p. 19, estoria nº 1)

iv) Gostei também da imagem transmitida numa passagem da p. 25 quando, ao referir-se às estórias de um menino escreve (cito) - “De tanto lidar com carros de lata até já tinha jeito de um bom condutor ao virar para a esquerda e para a direita enquanto metia as quatro velocidades usando como motor as cordas vocais.”

v) A definição e referência aos famosos brinquedos de antigamente – “arco e argola” – numa passagem da p. 41 está em bom estilo. Lê-se que “Beto” (o menino personagem principal dessa estória) – cito – “ passava a dar voltas e voltas pendurado a um arco e uma argola, objectos de brinquedo que eram feitos da parte extrema do tambor, fazendo os seus quilómetros e meio mas sempre no mesmo sítio, e ao som do ferro esfregando-se um contra o outro…”


Outros exemplos retirei dos textos, mas para não me alongar mais, deixo a sua descoberta à vossa curiosidade e interesse pela obra.

Fazendo votos para que o livro tenha sucesso e para que a Autora escreva muitas mais obras, termino agradecendo a vossa atenção dispensada.


Obrigado.

Milton Paiva

4-Aventure onusienne - n° 1

Aventure onusienne – n° 1

Chers amis et "diplomates" onusiens

Mes aventures onusiennes ont commencé de facto depuis 1 semaine et officiellement hier, après ma 1er réunion de travail avec le Représentant Résident (RR) de l’OMS au Cap Vert (CV) et son assistante administrative.

Tout d’abord, le Système des Nations Unies au CV – Pnud, Unicef, Pam, Fnuap, Fao et Oms- est une structure animée par une cinquantaine de fonctionnaires, dont la majorité sont des fonctionnaires recrutés localement.

Les conditions logistiques sont propres, dans un bâtiment situé à peine à quelques mètres de l’océan Atlantique, plus précisément, des plages de « Quebra-canela » et « Prainha », à Praia, Île de Santiago.

Comme prévu, je me suis présenté au bureau le 15 septembre, mais le RR m’a proposé de reporter d’une semaine le début du stage (le 22) car il serait au Tarrafal dans une action de formation au personnel de santé du pays. Néanmoins, je me suis présenté au bureau tous les jours depuis le 15, à titre non officiel, dans le but de me familiariser avec l’ambiance, d’avancer quelques recherches au sein du Centre d’infos, docs et multimédia de l’Onu/cv.

La chose n’était pas mal joué car au bout de 3 jours, et faute de concurrence au poste d’administrateur exploité débutant (aucun signe d’autres candidats), j’ai été invité à m’installer tout de suite dans mon futur bureau de stagiaire.

C’est un petit bureau confortable et individuel, au 1er étage, dont à partir d’aujourd’hui j’ai la clé et une autorisation du RR pour y rester au delà des horaires de travail (8h-16h). A partir de demain je compte amener mon sac de couchage, ma guitare et quelques sandwiches…

A la fin du 1er jour dans mon bureau, j’ai été acteur d’un petit épisode hollywoodien. A l’époque sans la clé, j’ai oublié de prévenir le personnel pour m’appeler avant la fermeture du bâtiment. Vers 18h je me suis rendu compte que j’étais barré et tout seul dans le bâtiment : pas de n° portable de personne, faim, fatigue, panique…

J’ai réussi finalement à me faire remarquer par un agent de sécurité et une femme de ménage, qui passaient dans le hall d’entrée du bâtiment, mais aucun des deux avait la clé souhaitée.

Le plan de sauvetage consistait à me faire sortir par la fenêtre. Confirmant toutes mes capacités acrobatiques, l’opération a été réussie avec l’efficacité et la discrétion nécessaires aux affaires privées d’un fonctionnaire international …

Sur la réunion d’hier avec l’RR, j’attendais des négociations difficiles à propos du projet de stage. Comme prévu par notre sage et expérimenté directeur - JDS, le RR avait tout prêt un plan de dissertation à me proposer sur l’OMS : Intro, I, II,et III partie.

Inspiré par la vision du maître JDS, je me suis battu fermement contre son projet de stage « recherche » balançant la fameuse théorie « d’administrateur débutant ». Le débat était riche mas pas conclusif. D’après lui un administrateur international n’est pas un « plombier » mais plutôt un philosophe des bureaux, capable de « comprendre, gérer, planifier et évaluer ». Donc, pas question de me faire sortir du bureau pour aller sur le terrain…

Etonné et un peu déçu avec notre 1er session, je lui ai demandé une pause pour réflexion, car je m’avait imaginé dans les Nissan UN, traversant les montagnes et vallées pour sauver le peuple et proclamé les OMD…


Vers 16h, après une courte session, ont a finalement abouti à un consensus sur mon projet de stage, contenant cette fois une partie que j’ai appelé « Pratique de l’administration internationale » dans lequel j’ai introduit à titre indicatif, des participations aux réunions/négociations avec le gouvernement, les visites aux programmes/activités sur place, la participation dans les ateliers, enfin, sortir du bureau…

La résolution finale a été remise à JDS le jour même, en espérant son arbitrage du différend…

Bon week-end et à bientôt.

Milton Paiva

3-"Inter-Bus": co(a)ntado em cabo-verdiano

“INTER-BUS": co(a)ntado em cabo-verdiano

Episódio I
17.07.2005
Domingo

PARIS
À boa maneira francesa convém, em 1º lugar, definir com rigor o titulo da minha (s) crónica (s).Há pelo menos duas palavras do título que poderiam suscitar dúvidas: "inter-bus" (neologismo de existência duvidosa no vocabulário turístico internacional e que pretendo fazer rivalizar com "inter-rail") e "cabo-verdiano"( língua(s) falada(s) nas ilhas de Cabo Verde que por uma questão de militância entendi assim denominar em detrimento da habitual designação por "crioulo"). Em 2º lugar, gostaria de invocar o contexto: em vésperas da minha despedida do Velho Continente (definitiva?), após uma inesperada dezena de anos, pareceu-me muito oportuno marcar esse tão reflectido momento por um périplo "apressado" mas modestamente diversificado por alguns (re)cantos desse pedaço chamado Europa. À boa maneira luso-cabo-verdiana, a 1ª tentativa de partida falhou, e pôs-a-nu todo o improviso e inconsistência deste meu "mega" projecto. A anunciada partida do dia 15 de julho aconteceu com um dia de atraso e, em vez do Paris - Barcelona, não fiz mais do que atravessar a Cité U e acampar no soalho do quarto do meu amigo Repique, na Casada Holanda, por uma noite. Fracasso total, questão existencial, embaraço, cenário inesperado, clandestinidade... Confirmava-se o teorema matemático segundo o qual " improviso + imprevisto = desenrasca-te" (i + i = d). Ainda assim dei por positivo esse desvio por razoes que só Deus sabe... A propósito, o pic- nic de integração dos ex - RAGs na Casa da H foi um notável sucesso. O nosso conhecido Massy não permitiu que nada nos faltasse... Eram cerca de 19:05 do dia 17/07 quando, finalmente, consegui abandonar Paris rumo a Barcelona, com a impressão de que o improviso não acabara ali mas sim tinha acabado de começar... MPaiva


Episódio II
18.07.2005
2a feira

BARCELONA

A chegada a Barcelona, por volta das 9h da manhã locais, foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Involuntariamente, acabei por viajar durante a noite e ter o dia inteirinho para vagabundear pela cidade. O desembarque na “Estacio de Sants” provocou-me um ligeiro pânico durante uns 15 mn até descobrir que havia um posto de informação/reservas das Pousadas da Juventude da Catalunha no interior da estação. Bastaram uns 10mn a preparar o “dossier” para constatar que tive muita sorte: fiquei mesmo no coração de Barcelona, a 10 mn das praias, num tal de “Ramblas Center”. A situação é um pouco original porque só se pode reservar quartos por uma noite de cada vez. Todas as manhãs, entre o pequeno-almoço e as 11h, haverá uma corrida à recepção a ver quem consegue pfv mais uma caminha por mais uma noite. E caso para dizer “quem bebeu (na noite anterior) morreu...” (Terrakota). Uma das recepcionistas do Ramblas Center era, imaginem, brasileira! Nossa! Que simpatia de miúda! Bastou um dedo de meia-conversa (no meu portu-nhol?) para eu perceber que aquele som soava a Brasil. Desmascarados que estávamos, desatamos a falar em português (só para tentar impressionar a assistência!).

Foi surpreendente perceber que num espaço de 2 horas (9h-11h) tinha poupado imenso tempo e já estava de saco guardado e chave na mão, pronto a partir tranquilo. Servi-me do mapa da cidade oferecido pelo posto de info Pousadas da J para idealizar minimamente a 1a “corrida”.
Eu que nem sou muito do género caça-aos-museus (inculto!) tracei um roteiro equilibrado à minha maneira. Percorri sucessivamente a Torre Jaume I, o World Trade Center, o Port Vell, o Maremagnum, o Museu de Historia da Catalunha, o Passeio Marítimo (que delicia de praias!), a Marina, para depois subir até à Sagrada Família de António Gaudi, à Cidade Universitária de B, ao Camp Nou (estádio do FC Barcelona) e o regresso à baixa exausto.

Eu que até já tinha comprado o bilhete para 1 dia (Metro) logo de manhã, dei por mim a preferir andar mais a pé no meu 1o reconhecimento do terreno. Não posso deixar de sublinhar que foi muito bom o cheiro do Metro de Barcelona (M) – climatizado, limpinho, aparentemente muito melhor frequentado que o nosso querido Metro+RER parisiense! Apetecia-me, de repente, ficar a dormir no M na minha 1a noite em Barcelona. Ah! Os preços até são aceitáveis para quem chega de Paris: kebab a 3,5 euros numa zona de comércio/turismo até não doeu muito e era bem melhor que os do Bld Jourdan (Cité U).

Amanhã chega dos Açores o meu amigo e parceiro nestas viagens, o PM, que vai de certeza animar um pouco mais as minhas crónicas. Estive com ele ao telefone hoje e a coisa promete. Ah! A net é gratuita aqui na residência onde estou mas a fila de putos à espera para ir ao Messenger aconselha pequenos investimentos num cyber-café ca do sitio em vez da perda de tempo...

MPaiva


Episódio III
19.07.20053a feira

Acordei sobressaltado porque lembrei-me de repente que podia ir parar à rua se não conseguisse reservar uma cama para a noite seguinte. Vesti-me de qualquer maneira e desci as escadas 3 a 3 degraus de cada vez. Respirei fundo quando avistei uma vintena de pessoas em frente à recepção e com malas no chão, à espera de um percalço a seu favor. Porém, tudo se resolveu depressa porque afinal de contas existia ainda assim um certo “direito de preferência” para quem já esta alojado. Que alivio!
Decidi que o meu 2° dia ia ser muito pouco cultural. Pensei logo na praia, no sol, e mais tarde num passeio tranquilo pela noite “blaugara”. No trajecto em direcção à praia perdi-me involuntariamente pois, ao contrario do dia anterior, desta vez deixei o mapa em casa convencido que estava de poder reconhecer o caminho. Foi assim que fui parar à Sé de Barcelona e ao Museu da Diocese, os quais aproveitei para dar uma vista de olhos...

A chegada à praia de “Sant Sebastià” provocou-me um largo sorriso, eu que apesar de vir das ilhas há muito perdera familiaridade com aquele ambiente. Pois é, a praia mora longe de Paris! Instalei-me junto a uma barraca que passava um “reggae” delicioso e tinha uma vista melhor ainda. O tempo que voa e foge em Paris ali parecia paciente, compreensivo e respeitador do ócio de todos.

Abandonei a praia já disparado em direcção à residência, tal era a fome que se abatera sobre a minha existência. Já passavam das 19h...

Jantei num cantinho delicioso e acessível ao meu orçamento e jurei tornar-me num cliente assíduo enquanto estivesse por Barcelona.

Eram 22h e qualquer coisa quando recebi o sms mais esperado de todos. Era o meu amigo PM (Mohamed, entre nos) para avisar-me do seguinte: “chego hoje às 23h30 de avião”. Percebi logo que a minha motivação disparara instantaneamente e que a aventura talvez estivesse longe do auge...

MPaiva


Episódio IV
20.07.2005
4a feira

A noite anterior fora longa porque, de entre outros motivos, precisávamos de tempo para pôr a conversa em dia. A ideia de fazer esta viagem nascera em Alcobaça (Portugal) há cerca de quatro anos, numa das nossas aventuras associativas, mas na realidade eu e o PM já não tínhamos noticias um do outro há dois anos. Pouco a pouco fomos fazendo o ponto sobre a situação pessoal de cada um actualmente.

Depois de um prolongado bate-papo na “Plaça Reial” e de umas cervejas espanholas atravessamos “La Rambla” decididos a atirarmo-nos de cabeça na nossa 1a saída à noite digna desse nome. Na véspera fora guardando alguns “flyers” de sítios e festas da zona, de modo a ter algum trabalho de casa já feito. A concorrência é tal que durante toda a noite os bares e clubs da baixa têm pessoas a distribuir “flyers” no meio da rua e nos passeios de forma a desviar o maior numero possível de perdidos ou indecisos.

Experimentamos 1° o “Fellini” e de seguida dois outros clubs do “Maremagnum”. Surpreendentemente, ficamos com a impressão de que o publico presente nestes sítios era bastante mais novo do que imagináramos. Tentamos em vão informarmo-nos de outros sítios mas as horas já não permitiam mais vaidades. No regresso à residência passamos ainda pela sempre frequentada “La Rambla” e pelo “Fellini” mas já não havia nada para ninguém.

A manhã de 4a feira foi portanto passada a descansar na residência. O inicio da tarde foi marcado pelo 1° incidente negativo da viagem: a maquina fotográfica digital do PM ficou esquecida pendurada numa cadeira do restaurante onde tínhamos almoçado. Voltamos cerca de 3 a 4mn depois mas já era tarde demais...

Foi chato não só pela maquina mas também pelas fotos que já tínhamos tirado, entre as quais umas inesquecíveis com Che Guevarra (http://www.elchevive.org/), e pelas reportagens futuras que ficaram assim comprometidas.
Quarta-feira à noite foi borga outra vez: Plaça Reial, Irish Pub, Fellini e outras tantas tentativas...

MPaiva

Episódio V
21.07.2005
5a feira

Depois das desventuras de 4a feira à noite sabíamos que o dia seguinte ia ser curto. Ficamos a dormir a manhã toda deixando para a tarde a visita ao Museu Picasso (http://www.museupicasso.bcn.es/). Valeu muito a pena e deu para perceber ao vivo a grandeza e o génio de Picasso.
Pusémo-nos em fuga do museu porque o check -in para Milão era às 16h30.

MPaiva


Episódio VI
22.07.2005
6a feira

MILAO

A chegada a Milão deu-se por volta das 12h locais. Uma vez mais foi boa a opção de viajar de noite porque a deslocação parece passar-se muito mais depressa. Por entre o descanso e algumas conversas filosóficas ainda deu para espreitar muito ligeiramente cidades como Nice, Perpignan, Montpellier, Génova, Turim...

Ao pisar o solo milanês tive a impressão de ter voltado à estaca zero: sem alojamento, sem programa, caído de pára-quedas...
Felizmente com a ajuda de uns mapas e de alguns (e algumas!) transeuntes muito simpáticos conseguimos em pouco tempo traçar o percurso da estação “Garibaldi F.S” (chegada) até ao centro da cidade (estação “Duomo”) e, de seguida, em direcção à pousada da juventude “P. Rotta” na estação “QT8”.

Ainda de saco às costas paramos no centro da cidade para almoçar “pasta”, andar pelas ruas de comércio e tirar as 1as impressões de Milão. Eu e o meu amigo PM estávamos de acordo sobre o seguinte: se tivéssemos que escolher uma palavra para definir Milão (ou melhor as milanesas) ela teria que ser “elegância” ou “fashion”!

Pelo sim pelo não, fomos ter ao “Largo Augusto” para encontrar uma pessoa do ICEP (Portugal) de quem o PM tinha o contacto. Bela sorte a nossa! Deparamo-nos à mercê de uma açoriana bem bonita que teve paciência para falar-nos durante um vintena de minutos sobre o que vale a pena ou não ver em Milão em dois dias. Melhor “armados” partimos sem dificuldades rever a Catedral de Milão e a “Piazza Duomo” para, de seguida, rumarmos ao “P.Rotta”. Foi um enorme alivio ter de novo uma cama e umas chaves de casa e, ainda por cima, as condições eram bem melhores que as do “Ramblas Center” de Barcelona. Também, é verdade que estávamos, desta vez, um pouco mais longe do centro. Descansamos somente 3 horas porque, como sublinhou o PM, seria imperdoável vir dormir para Milão depois do que viramos lá fora. Foi assim que por volta das 20h30 já estávamos de novo nas ruas para ver sucessivamente as lojas do “Corso Buenos Aires”, jantar pizza no “Maruzzella”, visitar o “Castelo Sforzelo” e o maior parque da cidade situado logo a seguir – o “Parco Sempione”. Foi surpreendente constatar que o parque tinha uma importante vida nocturna, e involuntariamente, fomos parar ao “Bar Bianco” no coração do parque. A tentação de ficarmos por ali era muita mas lá nos decidimos a ir espreitar um tal de “Old Fashion”” que, pelos rumores, seria o ponto de passagem obrigatório.
Bastou avistar o largo de entrada para termos a certeza de que haviamos acertado. O problemas agora era a “guest list”. Valeu-nos a t-shirt do PM que dizia simplesmente “Cabo Verde”; E que o dizer da t-shirt chamara a atenção de um tal de SM que por sinal já vivera no Brasil e agora tornara-se relações publicas na noite milanesa. Tornamo-nos de repente VIPs, com direito a cartão de visita + entrada com recomendação. O PM ficou a dever-me um copo porque horas antes fora eu a aconselhar-lhe a vestir aquela t-shirt em detrimento de uma outra de marca muito mais conhecida...
Eu e o PM que nos gabávamos razoavelmente conhecedores de festas de gala ficamos simplesmente estupefactos e impressionados! Tudo estava bem naquele lugar: o espaço aberto, o publico rigorosamente elegante e bem vestidos, as “ragazzas”, a musica...
O PM não ficou nada satisfeito com o meu ar destroçado do final da noite mas a verdade é que até no “Paraíso” se fica cansado(http://www.oldfashion.it/)...

MPaiva


Episódio VII
27.07.2005
4a feira

VIENA

A nossa estratégia de manter o trajecto em aberto e de não reservar nada previamente sofrera o 1° duro golpe no Sábado (23/07) à tarde em Milão. Tranquilamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, deixamos para a ultima da hora a reserva da viagem Milão-Amsterdão. Azar! Estava tudo cheio e, de repente, tivemos que improvisar mais uma noite em Milão. Como se isso não bastasse foi-nos advertido que a próxima ligação para Amsterdão só teria lugar na 4a feira (4 dias depois!). Mais 4 dias em Milão estava fora dos planos e poderia comprometer definitivamente o resto das viagens. De repente, o critério para a escolha do destino seguinte tornou-se no mais inesperado de todos: agarramos na lista dos autocarros que partiriam de Milão no dia seguinte e escolhemos Viena! Estava traçado o nosso destino para os próximos dias.

Chegamos a Viena cerca das 21h de domingo para recomeçar tudo de novo. Após algum receio e hesitação iniciais, recomeçamos a dar os passos certos: mapa, metro, pousada da juventude, endereços dos sítios interessantes a ver, e alguns breves diálogos com os locais. Pouco depois das 00h já estávamos na rua de novo, depois de bastante bem albergados no 85 da rua “Neustiftgasse”. Mesmo sendo domingo à noite não resistimos a um longo passeio pelo centro da cidade. Apesar dos nomes de difícil pronuncia, demos provas de alguma pratica e sentido de orientação. Voltamos para casa às 05h da manhã, já destroçados e mudos, com a sensação de que já estávamos em Viena há uns 3 dias...

Os dias seguintes foram bastante bons muito por culpa da ajuda de uma amiga austríaca do PM, a S. Entre boémia e tradição fomos ao castelo de “Schönbrunn”, ao “Film Festival” de Viena no “Rathaus Platz” (praça da Câmara Municipal), ao “Museumsquartier”, ao “Stephanplatz” (espécie de centro do centro da cidade), ao “Vienna International Center” (onde fica a sede da ONU- Viena), aos bares da zona central da parte antiga da cidade (junto à Catedral), às feiras de gastronomia do Film Festival e ao “Kactus Bar”, de entre outras coisas. A estadia inicialmente prevista de cerca de 24 horas durou .... 4 dias e 3 noites!
Era isso também que dava mais pimenta e piada à nossa viagem. Se gostamos ficamos sem qualquer compromisso.

O PM não se cansou de me repetir que Viena estava a ser o melhor episódio do “Inter-bus” até ao momento e eu concordei.

Berlim, Praga, Budapeste ou Varsóvia seriam destinos prováveis a partir de Viena. Contudo, por razões que se prendem com o nosso estatuto de não europeu, e com a lista de cidades autorizadas ao Europass, não nos restavam muitas soluções rumo ao Norte da Europa. Berlim, embora sendo zona Schegen, punha-nos na mesma problemas porque o autocarro que partia de Viena passava por outras cidades do Leste onde não podíamos entrar sem visto próprio. Foi assim que decidimos por um desvio até Bruxelas ou Amsterdam para ver e seguir talvez para Stocolmo. Infelizmente, o Europass não nos dava direito ao Viena –Amsterdão directo e, assim, optamos por Bruxelas com partida às 20h do dia 27/07...

MPaiva


Episódio VIII
28.07.2005
5a feira

BRUXELAS

A chegada a Bruxelas demorou mais cerca de 3 horas do que o previsto. O nosso autocarro foi controlado pelo menos duas vezes pelas policias holandesa e alemã, e paramos ainda alguns minutos em Antuérpia. Desta vez fizemos imediatamente a reserva da viagem seguinte para evitar surpresas de ultima hora. Porém, dêmo-nos conta de que Viena - Bruxelas tinha sido a ultima viagem conjunta com o meu amigo PM, pois já só me restavam 3 dias de férias enquanto que ele ainda tinha muitos mais. Assim, de comum acordo, a minha ultima viagem antes do regresso a Paris seria o Bruxelas – Amsterdão, enquanto que ele seguiria ainda para Stocolmo, para ai ficar até ao dia 2 de agosto. Consumada a separação da dupla que tantos episódios animara, ainda tivemos tempo para passar umas 24 horas em Bruxelas porque os nossos autocarros respectivos só partiriam no dia seguinte às 13h30 e 14h.
Instalamo-nos numa pousada da juventude que ficava a uns 13 a 15 mn da “Grande Place” de Bruxelas junto à estação do Metro “Comte de Flandre” (Auberge de Jeunesse - “Génération Europe). Cansados como estávamos decidimos aproveitar resto do dia 28 para dormir, lavar a roupa, ir à internet, isto é, passar umas horas mais caseiras. Fizemos uma boa sesta entre a 18he as 01h! O PM ainda quis saber se eu estava motivado para uma saída à noite em Bruxelas mas a minha oposição silenciosa fora suficiente para encerrar o assunto...

Dormimos que nem uns santos, e assim, pudémos finalmente acordar a tempo do pequeno-almoço oferecido pelas pousadas entre as 07h e as 09h45 + - (meia - pensão). Tínhamos falhado os pequenos-almoços quase por todo o lado onde estivéramos! De seguida, decidimos ir ver 3 ou 4 coisas de Bruxelas. As contempladas foram a “Grande Place”, os edifícios da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu na estação de Metro “Schuman”. O episódio VIII terminou na “Gare du Nord” ( tb existe disso em Bruxelas!) onde eu e o PM seguimos para destinos distintos após um apressado aperto de mãos...

MPaiva


Episódio IX
30.07.2005
Sábado

AMSTERDAO

A sensação de finalmente fazer uma viagem curta de 3 horas e meia foi óptima. Durante 12 dias fizéramos viagens de 10 a 16 horas, as quais eram os nossos únicos momentos de verdadeiro repouso, de vez em quando interrompidos por um ou outro comentário ou momento literário (!)

Amsterdão era a cidade da qual só me lembrava vagamente do aeroporto. Estivera varias outras vezes na Holanda sem visitar essa cidade obrigatória onde, de acordo com uma frase que retive de um placard do museu de historia da cidade, “moram pessoas de pensamento aberto e independente” (tradução + -)

Até aqui nunca houvera problemas de lotação nas pousadas por onde passamos, mesmo não tendo reserva prévia. Cerca de 1 hora após o meu desembarque na cidade, já estava à porta de um “youth hostel”, situado no coração da boémia, convencidíssimo de que bastava pagar para usufruir de tão vital serviço. Até nem fiquei muito preocupado quando ouvi o 1° “we’re full. I’m sorry!”. O próprio recepcionista foi gentil ao facultar-me uma lista de 17 “low budget accomodations” de Amsterdão. Entusiasmado como estava com as 1as impressões da cidade, aventurei-me a andar a pé em busca de abrigo. A 3a negativa comecei a ficar realmente preocupado! Perdera muito tempo a andar por aquelas ruas longas (n° de 0 – 1000 e tais) e não arranjei nada. Decidi então mudar de estratégia e investir alguns euros em chamadas telefónicas. Recebi sistematicamente negativas e à 11a vez reparei que a Sra do pequeno restaurante onde entrara para jantar já se tinha apercebido da situação. Ela comentou qualquer coisa com um rapaz (que julguei ser o filho), do qual percebi “reservation” e “full”! Pensei para mim que ela devia estar a dizer “pobre rapaz!...”. Após uma pausa para o café ganhei coragem para nova tentativa e já havia uma pequena luz ao fundo do túnel. Era um tal de “La Canna”, mais caro que os outros mas ao menos tina lugares. O único pormenor que me preocupou no “La Canna” foi a frase que vinha à frente do nome, entre parêntesis e com três pontos de exclamação – “(also coffeshop!!!)”. Realizei logo que eu não seria um bom cliente e que, como os quartos mais baratos eram colectivos (4 a 8 pessoas) talvez não caísse na simpatia dos meus co- locatários. Mais um telefonema e encontrei finalmente abrigo num tal de “Kabul” a 4 mn do “Central Station” de Amsterdão. O aspecto do quarto era bastante mau e cada novo inquilino que entrava aumentava o sentimento de insegurança geral. A recepcionista tinha-me dito que havia um cofre de alta segurança e gratuito na recepção, caso fosse necessário para pequenos objectos de valor, mas que o conselho que me dava era de levar comigo para todo o lado os meus pertences de valor! Optei por deixar no cofre as 3 coisas que não podia absolutamente perder em Amsterdão: o passaporte, o bilhete/europass de regresso a Paris e... o meu caderno destas viagens, onde escrevo, rasuro, colo, risco...

Sai finalmente para o meu 1° passeio mais descontraído, sem a tralha às costas e com a certeza de que não era desta que ia para debaixo da ponte! Dei por mim a pensar no que tinha corrido mal e a resposta não tardou a aparecer. E que acabara de chegar à cidade das drogas legais e sexo a bom preço, em pleno fim-de-semana! Aquela hora já só me restava o passeio nocturno (+- 22h30). Assim fui ver o famoso negocio do sexo à rua “Oudezidjs Achterburgwal” (?). Foi curioso ver que, de entre os transeuntes/visitantes, havia muitos casais e grupos de raparigas, o que confirma que aquelas montras são verdadeiramente uma das principais atracções de Amsterdão. Acabei a noite no “Rambrandt Plein”, um dos principais quarteirões de bares/discotecas da cidade...

MPaiva


Episódio X
31.07.2005
Domingo

Acordei e, por força do habito, chamei logo pelo PM. Respondeu-me uma voz feminina a dizer qualquer coisa como “they are gone” (?!)...
Realizei então que estava em Amsterdão e que o PM por aquela hora já estava de certeza em solo sueco.
Adivinhava-se um dia mais interessante pois tinha toda a tarde para visitar e passear pelo centro, enquanto que a noite ficaria reservada para o encerramento da viagem e destas férias inesquecíveis. Fui apanhar 10mn de sol à praça de “Dam” (antigo hall de entrada da cidade por volta do sec. XVII) em frente ao palácio real (Koninklijk Paleis) onde um indivíduo que se autodenominou de profeta me surpreendeu com 5mn de catequese. Como estava pouco conversador prometi ficar com a “bibliografia” para consultar mais tarde. Tinha decidido que, do muito que havia para ver, queria ir ver à casa/Museu de Rambrandt(MR)e o Museu de Historia de Amsterdão(MHA) .
Segui então o caminho que ia dar ao MR e, pelo meio, ainda dei uma breve vista de olhos no Alland Pierson Museum (museu arqueológico da Universidade van Amsterdam, UVA). O MR foi uma boa escolha. Pensava eu que se tratava de uma mera residência de familia mas afinal tratava-se da casa onde viveu durante os momentos mais altos da sua actividade artística. Comprara a casa por um valor elevadíssimo para a época (1639) e mais tarde viria a perdê-la por ser um gastador nato. Em 1956 os credores perderam a paciência e ficara-lhe não somente com a casa mas também com toda a colecção de arte e raridades em que investira zelosamente. Actualmente essa sua antiga casa foi restaurada tornando-se num autêntico museu de homenagem a Rambrandt. No final da visita, com momentos guiados e outros livres, concordei que tinha feito um verdadeiro “step back into Rambrandt’s age” como eles dizem. Entretanto fiquei com pouco tempo para visitar o MHA. Ainda assim fui até lá investir nos últimos 20/15 mn antes da hora do fecho dos museus. Deu para reter vagas noções sobre a fundação da cidade e a época de ouro que a cidade viveu no séc. XVII, quando era considerada o centro do comércio mundial.
Muito satisfeito com o rumo que dera à minha tarde, voltei ao “Kabul” para dormir umas duas horas antes da ultima noitada em Amsterdão. Não tinha ainda programa definido mas tinha algumas ideias directrizes: desta vez sair um pouco mais do centro e nunca parar muito tempo no mesmo sitio, a fim de ficar com uma ideia mais panorâmica e diversificada da boémia local. Bem aconselhado pelos locais, apanhei o “tram” (eléctrico) em direcção ao “Leidsplein”. Ao que parecia, tratava-se de outro dos quarteirões rival do “Rambrandtplein” em termos de boémia e actividade nocturna. Tinha todo o tempo do mundo e só eram 22h. Andei por vários bares até estacionar num tal de “Zebra” que, pouco a pouco, foi ficando com lotação esgotada. A onda era mais “hip-hop” e o ambiente nada mau. Por volta das 04h da manhã abandonei o Zebra para ir parar ao “Melkweg” logo a 3mn dali, o qual ao que parece é considerado uma das discotecas mais dinâmicas da Holanda (de acordo com o meu “Visitor’s Guide”, companheiro inseparável em Amsterdão!). Tive que travar um breve paleio com os seguranças porque, normalmente, ninguém mais entra depois das 03h. O argumento derradeiro e decisivo foi o facto de lhes ter dito que voltaria para Paris dai a poucas horas! Tratava-se portanto de mera visita de (re)conhecimento sem intuitos “lucrativos”...
Chegado ao “Kabul” em vez de pôr-me logo pronto para o “check-out” das 10h cai na cama destroçado. O despertador estava ligado mas, para apimentar a estoria , ficou em modo “vibrar”! Resultado: não tocou e depois foi a correria do costume para o metro e depois para o autocarro. Cheguei mesmo no ultimo segundo possível de o apanhar! O motorista ainda resmungou qualquer coisa em holandês mas eu já estava certo de que, mais uma vez, conseguira safar-me...

MPaiva

Wednesday, March 14, 2007

2-Revelações de um Réveillon inesperado no Fogo

Decidir-se a viajar na Quarta-feira dia 28 sem saber ao certo para onde...

No mesmo dia reservar dois lugares para a mesma pessoa, para dois destinos diferentes, na mesma companhia aérea, às mesmas horas e dias de ida e volta ...

Na Quinta-feira baralhar-se até à ultima da hora e comprar afinal um bilhete AR Praia - S. Felipe (ilha do Fogo) para partir às 15h40 do dia seguinte...

Foi o tempo que durou a planear a minha 1a viagem à ilha do Fogo.

Como de costume, deixara para a ultima da hora o expediente respeitante à festa de passagem de ano 2005®06, num misto de indecisão e de tentativa de ganhar tempo para melhor escolher. As duas possibilidades mais credíveis apontavam 1° para o Tarrafal (ilha de Santiago) e depois para Pedra de Lume (ilha do Sal) até 3 dias antes desse famoso dia 31. No entanto, a ideia de ir ao Fogo era anterior e não estava necessariamente dependente da quadra festiva em questão. Os prós e os contras de cada uma devidamente pesados a decisão não estava fácil. Bastou um telefonema exploratório ao meu amigo de longa data CA Reis para que a decisão se aclarasse. Entre o Tarrafal, o Sal e o Fogo, este ultimo tinha o atractivo de ser a 1a vez. Mas não só! Entre eu e o CA Reis existe uma daquelas amizades que o banco da escola criou e o tempo perdurou. Encontramo-nos de tempos em tempos mas quando isso acontece fazemos o ponto da situação das nossas vidas em pequenos resumos e muita outra coisa “fixe”: uns toques de violão, umas boas conversas politicamente faladas, momentos mais filosofais, sem esquecer uns refrescos super-bockianos quando não for um xarope grogueano a meio de uma conversa FIADA (marca do excelente grogue que o CA Reis tinha à espera)

S. Felipe é uma cidade pequena, limpinha, à beira-mar, que me surpreendeu positivamente. Ali ao lado pode-se avistar a ilha da Brava de muito perto. Concordo perfeitamente com o Fidel (nome próprio de um amigo do CA Reis, também ele jovem profissional em missão na ilha) quando ele me diz que mantendo-se o seu quadro pessoal e profissional actual ele dificilmente voltará a viver na Praia. Gostei de ver que algumas importantes responsabilidades administrativas, sanitárias e judiciárias eram asseguradas por jovens profissionais (sub 30), alguns deles antigos colegas meus dos bancos da escola, e que tão boa conta do recado têm dado. Por exemplo, as duas autoridades máximas do poder judicial (o Juiz e a Procuradora da Republica) na ilha são dois jovens magistrados na casa dos 27 e 28 anos. O médico Delegado do Ministério da Saúde idem, assim como outros membros da equipa médica.

O CA Reis tratou de me dar umas voltas pela parte histórica da cidade, subindo às zonas de extensão da cidade, bem como ao Cais e à praia da malta. Pelo meio ainda fomos passear até Ponta Verde com o Fidel e o tio Mário. Os principais pontos de encontro da malta parecem ser o Djidja’s (bar - discoteca) e o Café Fixe, ambos lugares tranquilos para um “rendez-vous”, uma boa cerveja ou um qualquer bate-papo. Como de costume, lá me fui achando cantor e acabei no pequeno palco do Djidja’s de guitarra ao colo e bem secundado pelo CA Reis (em tempos o dueto mais famoso da Lisboa estudantil cabo-verdiana: Paulo Ganzas & Olavo Blaaaaaaack). Na tarde do dia 31 o dueto voltou a fazer estragos. Desta vez fomos ao estúdio (quarto), a solos, fazer reboliço durante umas 5 horas de bom feeling e conversa fiada. Como diria o CA Reis, experimentamos varias linhas melódicas (???) inclusive alguns desafinados. Qual Tom Jobim bem que podíamos tentar compor um Desafinado.


A Festa da passagem ano no Tropical Bar tinha bom potencial. Musica à abrir, bar aberto e umas quantas “piquenas”...Pessoalmente, talvez tenha acusado algum desgaste da minha semana na Praia e acabei mais “bebedor” do que empreendedor ou “badjador” (badju = dança). Ou talvez não. Pode ser que sejam sinais dos tempos. Qual jogador de futebol a carreira de um boémio tem altos e baixos...

Já perto do fim, e depois a caminho da Praia, ainda troquei alguns contactos promissores (...) na certeza de que vale a pena voltar mais vezes ao Fogo.

Milton Paiva

1-Trinta horas para contar sobre a ilha da Brava

Sem nunca antes ter experimentado outro percurso de barco que não fosse a travessia do rio Tejo em Lisboa, há muito que esperava poder embarcar nesse desconhecido que todos os dias vem e vai mar adentro...

O fim-de-semana prolongado deste 13 de Janeiro era mais uma boa oportunidade para improvisar algo que desafiasse as rotinas do quotidiano. Foi assim que começamos a organizar a nossa pequena caravana a quatro rumo à ilha da Brava. Para mim tratava-se da descoberta total do mar e da ilha; para a SB era a descoberta da ilha somente. Quanto ao CA Reis e a AR nem uma coisa nem outra a não ser re-visitar lugares e amigos bem queridos dos seus passados profissionais recentes.

Na véspera da partida cheguei a temer o mal-estar característico das viagens de barco e, tratando-se da 1a vez, estava incapaz de prever a minha reacção a uma tal situação. Pelo sim pelo não, como que para ganhar coragem, disse para mim mesmo que iria ser uma viagem normal só que mais demorada.

As movimentações e o vai-e-vém daquele embarque, às 22h de Quinta-feira no porto da Praia, faziam lembrar um qualquer mercado tradicional em hora de ponta. Sempre ouvi falar do BARLAVENTO, ao que parece um dos barcos já veteranos da nossa praça marítima, mas era tudo quanto sabia do barco: o nome. Uma vez instalado no famoso salão, esperei que a SB assinalasse a sua chegada, o que veio a acontecer pouco depois. Apesar de cansado, não podia deixar de observar e de apreciar aquela partida do porto, já depois da meia noite, sem fazer a mínima ideia da rota marítima que nos deveria levar à Brava com escala no Fogo. Abandonei o salão por instantes para seguir aquela partida sem duvida bem mais suave e bonita que a de um qualquer avião. Pouco a pouco, a cidade da Praia foi ficado para trás até que já só via luzes, incapaz de precisar com exactidão de que zona da ilha se tratava...

Pouco mais seria capaz de contar do resto da viagem de ida até ao Fogo a não ser uns bons balanços e movimentos bruscos do barco, quando seguramente confrontado com zonas mais turbulentas. Toda a tripulação, inclusive eu e a SB, dormia vencidos pelo cansaço e pela demora da viagem. Cerca de 7 horas depois estávamos na ilha do Fogo e já era dia de novo. Estava combinado que o CA Reis e a AR se juntassem a nós nesse Cais para juntos prosseguirmos. Como a paragem duraria cerca de 2 horas, o CA Reis veio buscar-nos ao porto para levar-nos até à casa dele em S. Felipe. Aquela curta passagem por S. Felipe trouxe-me à memória boas recordações da minha recente passagem pela ilha.

O resto da viagem (Fogo – Brava) foi bem mais agradável por muitas razões: já era dia, o trajecto duraria cerca de 1 hora, o mar estava límpido e sereno, a equipa estava reforçada com mais dois bons elementos. Naturalmente, o ambiente de descontracção que nos é característico foi-se revelando, e a varanda do 1° andar do BARLAVENTO tinha muito melhor vista e estava sem duvida mais arejada que o salão do percurso anterior.

Fixando a ilha que ia aparecendo cada vez maior no horizonte, fiquei surpreendido ao saber pela boca do CA Reis que a Vila ficava nas elevações montanhosas e não num qualquer vale como havia imaginado. Conta-se que do porto de Furna (local do desembarque) até lá são 99 curvas sempre a subir. Até nisso parece não haver consenso pois, segundo o nosso amigo o Sr. Dr. Juiz, que nos veio buscar ao Cais, contara cerca de 101 curvas até lá acima. Seja como for a coisa deve andar por ai.

Desembarcamos em Furna e não foi difícil confirmar que toda a gente conhecia o CA Reis e a AR, os quais tinham desempenhado relevantes funções publicas na ilha, durante cerca de um ano, antes das respectivas transferências para o Fogo. Da minha parte não pensava noutra coisa senão em prestar atenção à maneira de falar da ilha. Não me lembrava de ter conhecido outros bravenses nem de ter ouvido falar de tal forma. Afinal, com excepção de alguns nomes e expressões características, percebia-se perfeitamente e não haveria quaisquer dificuldades nesse sentido.

Pousadas as bagagens, a fome era tanta que fomos imediatamente tomar o pequeno - almoço ao restaurante/bar SOSSEGO onde, como disse a AR, serviam o pequeno almoço mais “fundamental” da Vila: cachupa “rafogadu” com linguiça a acompanhar o café com leite do costume e mais outros quantos acessórios se desejados.

Seguiu-se uma boa marcha pela Vila cujo nome não deixa de ser curioso - NOVA SINTRA – numa mais que provável referência à cidade portuguesa de SINTRA. Realmente, quem conhece as duas Sintras constatará facilmente as semelhanças: ambas situadas montanha acima, com micro- climas frios e céus quase sempre nebulosos, bastante verdes e floridas, e ambas concebidas ao estilo da arquitectura portuguesa colonial. A Praça e os Paços do Concelho são bons exemplos desse estilo. Contou-me o Sr Dr. Juiz que o Governo do pais no tempo colonial chegou a sedear na Brava, dando à Vila uma importância capital. Segundo ele, Francis Drake, o famoso pirata marítimo inglês, chegara a pilhar a ilha, numa das suas inúmeras “recolhas forçadas” de ouro de outras jóias por esse mundo fora.

Por entre sorrisos e abraços chegamos à “sede” da CASA MANSA, que salvo as devidas comparações, é o nome de um importante senhorio do poder comercial e imobiliário local. Do interior da loja o Sr T, dono daquele estabelecimento e de vários outros imóveis da Vila, assinalados com o nome de Casa Mansa, saudou-nos efusivamente e providenciou imediatamente a devida recepção à comitiva. Homem de bom sentido de humor, ai ficamos o tempo que foi necessário, todos sentados à porta, na companhia do que cada um quisesse beber. Dai só saímos quando se aproximou a hora de providenciar o improvisado churrasco de logo à noite, a convite e em casa do Sr Dr. Juiz.

Orientada que estava a “churrascada”, conseguimos boleia para uma volta mais prolongada a outros pontos da ilha, nomeadamente até ao Miradouro (donde se vê particularmente bem a Vila e o Fogo) e a outros locais cujo nome não retive.

De regresso, não podíamos deixar de passar num dos Bares mais notáveis da ilha, o qual já ganhou mesmo um prémio em França pela sua originalidade. Esta reside no facto de existirem também lugares para clientes atrás do balcão, onde normalmente só deveriam estar os bar-men e outros empregados. Coincidência ou não tratava-se de mais um dos estabelecimentos do referido Sr T da Casa Mansa. Durante a tarde tinha-lhe perguntado donde vinha o nome e a historia é simples: houve um padre na ilha de quem ele se tornara amigo, e o qual era um frequentador assíduo do seu estabelecimento; foi esse padre que, tendo vivido anteriormente em Casamansa (fronteira Senegal / Guiné-Bissau), baptizara o local com o mesmo nome, que escrito da forma anterior resultava nessa palavra de duplo sentido.

A Churrascada foi um bom momento, como previsto. Foi o tempo para uns voltarem a falar de política (decorre a companha para as legislativas 2006), para outros tocarem & cantarem, enquanto outros ainda (os melhores ! ) continuavam a assar os frangos...

Madrugada adentro, quando a parodia já estava a morrer, lembrei-me de desafiar o pessoal a acabarmos a noite num qualquer bar lá do sitio. A resposta surgiu rapidamente. O experiente CA Reis retorquiu qualquer coisa como isto: “Estás na melhor parodia possível numa Sexta-feira à noite na Brava! Não queiras fazer na Brava as mesmas coisas que farias na Praia”...

Rendi-me por instantes àquela evidência , mas voltaria à mesma tentação quando mais tarde ouvi dizer que haveria àquela hora um bar aberto, para onde iriam umas pessoas que tinham estado connosco. Sol de pouca dura. Mal pousei na cama ainda resmunguei com o CA Reis mas logo me apercebi que a noite acabara ali...


No dia seguinte, a 1° boa iniciativa foi voltar ao SOSSEGO para o pequeno-almoço dito “fundamental”. Mais umas quantas voltinhas e pronto, aproximava-se a hora prevista para o check-in no Cais de Furna – 13h. Já diziam os mais experientes que isso de horários de barcos não era para levar muito a sério. Na verdade só embarcamos por volta da 17h, depois de mais um “rendez-vous” num dos restaurantes/bares de Furna. Fiquei a conhecer, de entre outros, a dupla Nhelas & Gabs, dois antigos estudantes cabo-verdianos de Filosofia e Economia (respectivamente) no Brasil que se tornaram professores na ilha. O Nhelas mais pensador e o Gabs mais arrasador assim continua a dupla desde outros tempos estudantis.

Como na ida, regressamos via Fogo, onde nos despedimos do CA Reis e da AR. A viagem para a Praia foi “apocalíptica” na expressão da SB. O mar estava demasiado bravo para uma viagem tranquila: muito vento, ondas enormes a roçar as janelas do salão, movimentos bruscos e roídos estranhos do navio, muito calor, a maioria dos poucos passageiros deitados no soalho do navio a tentar dormir, ruídos de cabras e porcos que vinham na parte exterior ...

Na chegada ao porto da Praia cerca das 03h20 da madrugada de Domingo, as mesmas impressões da partida: a noite, a Praia em luzes, a mesma tranquilidade apenas interrompida pela correria de taxis e bagageiros pouco depois de o navio ter sido imobilizado no porto.

Exceptuando o tempo gasto nas deslocações marítimas de ida e volta, tínhamos afinal passado cerca de 30 horas na Brava. A impressão e os traços que me ficaram eram os de uma viagem de três dias, tais os trajectos e contornos...


Milton Paiva