“INTER-BUS": co(a)ntado em cabo-verdiano
Episódio I
17.07.2005
Domingo
PARIS
À boa maneira francesa convém, em 1º lugar, definir com rigor o titulo da minha (s) crónica (s).Há pelo menos duas palavras do título que poderiam suscitar dúvidas: "inter-bus" (neologismo de existência duvidosa no vocabulário turístico internacional e que pretendo fazer rivalizar com "inter-rail") e "cabo-verdiano"( língua(s) falada(s) nas ilhas de Cabo Verde que por uma questão de militância entendi assim denominar em detrimento da habitual designação por "crioulo"). Em 2º lugar, gostaria de invocar o contexto: em vésperas da minha despedida do Velho Continente (definitiva?), após uma inesperada dezena de anos, pareceu-me muito oportuno marcar esse tão reflectido momento por um périplo "apressado" mas modestamente diversificado por alguns (re)cantos desse pedaço chamado Europa. À boa maneira luso-cabo-verdiana, a 1ª tentativa de partida falhou, e pôs-a-nu todo o improviso e inconsistência deste meu "mega" projecto. A anunciada partida do dia 15 de julho aconteceu com um dia de atraso e, em vez do Paris - Barcelona, não fiz mais do que atravessar a Cité U e acampar no soalho do quarto do meu amigo Repique, na Casada Holanda, por uma noite. Fracasso total, questão existencial, embaraço, cenário inesperado, clandestinidade... Confirmava-se o teorema matemático segundo o qual " improviso + imprevisto = desenrasca-te" (i + i = d). Ainda assim dei por positivo esse desvio por razoes que só Deus sabe... A propósito, o pic- nic de integração dos ex - RAGs na Casa da H foi um notável sucesso. O nosso conhecido Massy não permitiu que nada nos faltasse... Eram cerca de 19:05 do dia 17/07 quando, finalmente, consegui abandonar Paris rumo a Barcelona, com a impressão de que o improviso não acabara ali mas sim tinha acabado de começar... MPaiva
Episódio II
18.07.2005
2a feira
BARCELONA
A chegada a Barcelona, por volta das 9h da manhã locais, foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Involuntariamente, acabei por viajar durante a noite e ter o dia inteirinho para vagabundear pela cidade. O desembarque na “Estacio de Sants” provocou-me um ligeiro pânico durante uns 15 mn até descobrir que havia um posto de informação/reservas das Pousadas da Juventude da Catalunha no interior da estação. Bastaram uns 10mn a preparar o “dossier” para constatar que tive muita sorte: fiquei mesmo no coração de Barcelona, a 10 mn das praias, num tal de “Ramblas Center”. A situação é um pouco original porque só se pode reservar quartos por uma noite de cada vez. Todas as manhãs, entre o pequeno-almoço e as 11h, haverá uma corrida à recepção a ver quem consegue pfv mais uma caminha por mais uma noite. E caso para dizer “quem bebeu (na noite anterior) morreu...” (Terrakota). Uma das recepcionistas do Ramblas Center era, imaginem, brasileira! Nossa! Que simpatia de miúda! Bastou um dedo de meia-conversa (no meu portu-nhol?) para eu perceber que aquele som soava a Brasil. Desmascarados que estávamos, desatamos a falar em português (só para tentar impressionar a assistência!).
Foi surpreendente perceber que num espaço de 2 horas (9h-11h) tinha poupado imenso tempo e já estava de saco guardado e chave na mão, pronto a partir tranquilo. Servi-me do mapa da cidade oferecido pelo posto de info Pousadas da J para idealizar minimamente a 1a “corrida”.
Eu que nem sou muito do género caça-aos-museus (inculto!) tracei um roteiro equilibrado à minha maneira. Percorri sucessivamente a Torre Jaume I, o World Trade Center, o Port Vell, o Maremagnum, o Museu de Historia da Catalunha, o Passeio Marítimo (que delicia de praias!), a Marina, para depois subir até à Sagrada Família de António Gaudi, à Cidade Universitária de B, ao Camp Nou (estádio do FC Barcelona) e o regresso à baixa exausto.
Eu que até já tinha comprado o bilhete para 1 dia (Metro) logo de manhã, dei por mim a preferir andar mais a pé no meu 1o reconhecimento do terreno. Não posso deixar de sublinhar que foi muito bom o cheiro do Metro de Barcelona (M) – climatizado, limpinho, aparentemente muito melhor frequentado que o nosso querido Metro+RER parisiense! Apetecia-me, de repente, ficar a dormir no M na minha 1a noite em Barcelona. Ah! Os preços até são aceitáveis para quem chega de Paris: kebab a 3,5 euros numa zona de comércio/turismo até não doeu muito e era bem melhor que os do Bld Jourdan (Cité U).
Amanhã chega dos Açores o meu amigo e parceiro nestas viagens, o PM, que vai de certeza animar um pouco mais as minhas crónicas. Estive com ele ao telefone hoje e a coisa promete. Ah! A net é gratuita aqui na residência onde estou mas a fila de putos à espera para ir ao Messenger aconselha pequenos investimentos num cyber-café ca do sitio em vez da perda de tempo...
MPaiva
Episódio III
19.07.20053a feira
Acordei sobressaltado porque lembrei-me de repente que podia ir parar à rua se não conseguisse reservar uma cama para a noite seguinte. Vesti-me de qualquer maneira e desci as escadas 3 a 3 degraus de cada vez. Respirei fundo quando avistei uma vintena de pessoas em frente à recepção e com malas no chão, à espera de um percalço a seu favor. Porém, tudo se resolveu depressa porque afinal de contas existia ainda assim um certo “direito de preferência” para quem já esta alojado. Que alivio!
Decidi que o meu 2° dia ia ser muito pouco cultural. Pensei logo na praia, no sol, e mais tarde num passeio tranquilo pela noite “blaugara”. No trajecto em direcção à praia perdi-me involuntariamente pois, ao contrario do dia anterior, desta vez deixei o mapa em casa convencido que estava de poder reconhecer o caminho. Foi assim que fui parar à Sé de Barcelona e ao Museu da Diocese, os quais aproveitei para dar uma vista de olhos...
A chegada à praia de “Sant Sebastià” provocou-me um largo sorriso, eu que apesar de vir das ilhas há muito perdera familiaridade com aquele ambiente. Pois é, a praia mora longe de Paris! Instalei-me junto a uma barraca que passava um “reggae” delicioso e tinha uma vista melhor ainda. O tempo que voa e foge em Paris ali parecia paciente, compreensivo e respeitador do ócio de todos.
Abandonei a praia já disparado em direcção à residência, tal era a fome que se abatera sobre a minha existência. Já passavam das 19h...
Jantei num cantinho delicioso e acessível ao meu orçamento e jurei tornar-me num cliente assíduo enquanto estivesse por Barcelona.
Eram 22h e qualquer coisa quando recebi o sms mais esperado de todos. Era o meu amigo PM (Mohamed, entre nos) para avisar-me do seguinte: “chego hoje às 23h30 de avião”. Percebi logo que a minha motivação disparara instantaneamente e que a aventura talvez estivesse longe do auge...
MPaiva
Episódio IV
20.07.2005
4a feira
A noite anterior fora longa porque, de entre outros motivos, precisávamos de tempo para pôr a conversa em dia. A ideia de fazer esta viagem nascera em Alcobaça (Portugal) há cerca de quatro anos, numa das nossas aventuras associativas, mas na realidade eu e o PM já não tínhamos noticias um do outro há dois anos. Pouco a pouco fomos fazendo o ponto sobre a situação pessoal de cada um actualmente.
Depois de um prolongado bate-papo na “Plaça Reial” e de umas cervejas espanholas atravessamos “La Rambla” decididos a atirarmo-nos de cabeça na nossa 1a saída à noite digna desse nome. Na véspera fora guardando alguns “flyers” de sítios e festas da zona, de modo a ter algum trabalho de casa já feito. A concorrência é tal que durante toda a noite os bares e clubs da baixa têm pessoas a distribuir “flyers” no meio da rua e nos passeios de forma a desviar o maior numero possível de perdidos ou indecisos.
Experimentamos 1° o “Fellini” e de seguida dois outros clubs do “Maremagnum”. Surpreendentemente, ficamos com a impressão de que o publico presente nestes sítios era bastante mais novo do que imagináramos. Tentamos em vão informarmo-nos de outros sítios mas as horas já não permitiam mais vaidades. No regresso à residência passamos ainda pela sempre frequentada “La Rambla” e pelo “Fellini” mas já não havia nada para ninguém.
A manhã de 4a feira foi portanto passada a descansar na residência. O inicio da tarde foi marcado pelo 1° incidente negativo da viagem: a maquina fotográfica digital do PM ficou esquecida pendurada numa cadeira do restaurante onde tínhamos almoçado. Voltamos cerca de 3 a 4mn depois mas já era tarde demais...
Foi chato não só pela maquina mas também pelas fotos que já tínhamos tirado, entre as quais umas inesquecíveis com Che Guevarra (http://www.elchevive.org/), e pelas reportagens futuras que ficaram assim comprometidas.
Quarta-feira à noite foi borga outra vez: Plaça Reial, Irish Pub, Fellini e outras tantas tentativas...
MPaiva
Episódio V
21.07.2005
5a feira
Depois das desventuras de 4a feira à noite sabíamos que o dia seguinte ia ser curto. Ficamos a dormir a manhã toda deixando para a tarde a visita ao Museu Picasso (http://www.museupicasso.bcn.es/). Valeu muito a pena e deu para perceber ao vivo a grandeza e o génio de Picasso.
Pusémo-nos em fuga do museu porque o check -in para Milão era às 16h30.
MPaiva
Episódio VI
22.07.2005
6a feira
MILAO
A chegada a Milão deu-se por volta das 12h locais. Uma vez mais foi boa a opção de viajar de noite porque a deslocação parece passar-se muito mais depressa. Por entre o descanso e algumas conversas filosóficas ainda deu para espreitar muito ligeiramente cidades como Nice, Perpignan, Montpellier, Génova, Turim...
Ao pisar o solo milanês tive a impressão de ter voltado à estaca zero: sem alojamento, sem programa, caído de pára-quedas...
Felizmente com a ajuda de uns mapas e de alguns (e algumas!) transeuntes muito simpáticos conseguimos em pouco tempo traçar o percurso da estação “Garibaldi F.S” (chegada) até ao centro da cidade (estação “Duomo”) e, de seguida, em direcção à pousada da juventude “P. Rotta” na estação “QT8”.
Ainda de saco às costas paramos no centro da cidade para almoçar “pasta”, andar pelas ruas de comércio e tirar as 1as impressões de Milão. Eu e o meu amigo PM estávamos de acordo sobre o seguinte: se tivéssemos que escolher uma palavra para definir Milão (ou melhor as milanesas) ela teria que ser “elegância” ou “fashion”!
Pelo sim pelo não, fomos ter ao “Largo Augusto” para encontrar uma pessoa do ICEP (Portugal) de quem o PM tinha o contacto. Bela sorte a nossa! Deparamo-nos à mercê de uma açoriana bem bonita que teve paciência para falar-nos durante um vintena de minutos sobre o que vale a pena ou não ver em Milão em dois dias. Melhor “armados” partimos sem dificuldades rever a Catedral de Milão e a “Piazza Duomo” para, de seguida, rumarmos ao “P.Rotta”. Foi um enorme alivio ter de novo uma cama e umas chaves de casa e, ainda por cima, as condições eram bem melhores que as do “Ramblas Center” de Barcelona. Também, é verdade que estávamos, desta vez, um pouco mais longe do centro. Descansamos somente 3 horas porque, como sublinhou o PM, seria imperdoável vir dormir para Milão depois do que viramos lá fora. Foi assim que por volta das 20h30 já estávamos de novo nas ruas para ver sucessivamente as lojas do “Corso Buenos Aires”, jantar pizza no “Maruzzella”, visitar o “Castelo Sforzelo” e o maior parque da cidade situado logo a seguir – o “Parco Sempione”. Foi surpreendente constatar que o parque tinha uma importante vida nocturna, e involuntariamente, fomos parar ao “Bar Bianco” no coração do parque. A tentação de ficarmos por ali era muita mas lá nos decidimos a ir espreitar um tal de “Old Fashion”” que, pelos rumores, seria o ponto de passagem obrigatório.
Bastou avistar o largo de entrada para termos a certeza de que haviamos acertado. O problemas agora era a “guest list”. Valeu-nos a t-shirt do PM que dizia simplesmente “Cabo Verde”; E que o dizer da t-shirt chamara a atenção de um tal de SM que por sinal já vivera no Brasil e agora tornara-se relações publicas na noite milanesa. Tornamo-nos de repente VIPs, com direito a cartão de visita + entrada com recomendação. O PM ficou a dever-me um copo porque horas antes fora eu a aconselhar-lhe a vestir aquela t-shirt em detrimento de uma outra de marca muito mais conhecida...
Eu e o PM que nos gabávamos razoavelmente conhecedores de festas de gala ficamos simplesmente estupefactos e impressionados! Tudo estava bem naquele lugar: o espaço aberto, o publico rigorosamente elegante e bem vestidos, as “ragazzas”, a musica...
O PM não ficou nada satisfeito com o meu ar destroçado do final da noite mas a verdade é que até no “Paraíso” se fica cansado(http://www.oldfashion.it/)...
MPaiva
Episódio VII
27.07.2005
4a feira
VIENA
A nossa estratégia de manter o trajecto em aberto e de não reservar nada previamente sofrera o 1° duro golpe no Sábado (23/07) à tarde em Milão. Tranquilamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, deixamos para a ultima da hora a reserva da viagem Milão-Amsterdão. Azar! Estava tudo cheio e, de repente, tivemos que improvisar mais uma noite em Milão. Como se isso não bastasse foi-nos advertido que a próxima ligação para Amsterdão só teria lugar na 4a feira (4 dias depois!). Mais 4 dias em Milão estava fora dos planos e poderia comprometer definitivamente o resto das viagens. De repente, o critério para a escolha do destino seguinte tornou-se no mais inesperado de todos: agarramos na lista dos autocarros que partiriam de Milão no dia seguinte e escolhemos Viena! Estava traçado o nosso destino para os próximos dias.
Chegamos a Viena cerca das 21h de domingo para recomeçar tudo de novo. Após algum receio e hesitação iniciais, recomeçamos a dar os passos certos: mapa, metro, pousada da juventude, endereços dos sítios interessantes a ver, e alguns breves diálogos com os locais. Pouco depois das 00h já estávamos na rua de novo, depois de bastante bem albergados no 85 da rua “Neustiftgasse”. Mesmo sendo domingo à noite não resistimos a um longo passeio pelo centro da cidade. Apesar dos nomes de difícil pronuncia, demos provas de alguma pratica e sentido de orientação. Voltamos para casa às 05h da manhã, já destroçados e mudos, com a sensação de que já estávamos em Viena há uns 3 dias...
Os dias seguintes foram bastante bons muito por culpa da ajuda de uma amiga austríaca do PM, a S. Entre boémia e tradição fomos ao castelo de “Schönbrunn”, ao “Film Festival” de Viena no “Rathaus Platz” (praça da Câmara Municipal), ao “Museumsquartier”, ao “Stephanplatz” (espécie de centro do centro da cidade), ao “Vienna International Center” (onde fica a sede da ONU- Viena), aos bares da zona central da parte antiga da cidade (junto à Catedral), às feiras de gastronomia do Film Festival e ao “Kactus Bar”, de entre outras coisas. A estadia inicialmente prevista de cerca de 24 horas durou .... 4 dias e 3 noites!
Era isso também que dava mais pimenta e piada à nossa viagem. Se gostamos ficamos sem qualquer compromisso.
O PM não se cansou de me repetir que Viena estava a ser o melhor episódio do “Inter-bus” até ao momento e eu concordei.
Berlim, Praga, Budapeste ou Varsóvia seriam destinos prováveis a partir de Viena. Contudo, por razões que se prendem com o nosso estatuto de não europeu, e com a lista de cidades autorizadas ao Europass, não nos restavam muitas soluções rumo ao Norte da Europa. Berlim, embora sendo zona Schegen, punha-nos na mesma problemas porque o autocarro que partia de Viena passava por outras cidades do Leste onde não podíamos entrar sem visto próprio. Foi assim que decidimos por um desvio até Bruxelas ou Amsterdam para ver e seguir talvez para Stocolmo. Infelizmente, o Europass não nos dava direito ao Viena –Amsterdão directo e, assim, optamos por Bruxelas com partida às 20h do dia 27/07...
MPaiva
Episódio VIII
28.07.2005
5a feira
BRUXELAS
A chegada a Bruxelas demorou mais cerca de 3 horas do que o previsto. O nosso autocarro foi controlado pelo menos duas vezes pelas policias holandesa e alemã, e paramos ainda alguns minutos em Antuérpia. Desta vez fizemos imediatamente a reserva da viagem seguinte para evitar surpresas de ultima hora. Porém, dêmo-nos conta de que Viena - Bruxelas tinha sido a ultima viagem conjunta com o meu amigo PM, pois já só me restavam 3 dias de férias enquanto que ele ainda tinha muitos mais. Assim, de comum acordo, a minha ultima viagem antes do regresso a Paris seria o Bruxelas – Amsterdão, enquanto que ele seguiria ainda para Stocolmo, para ai ficar até ao dia 2 de agosto. Consumada a separação da dupla que tantos episódios animara, ainda tivemos tempo para passar umas 24 horas em Bruxelas porque os nossos autocarros respectivos só partiriam no dia seguinte às 13h30 e 14h.
Instalamo-nos numa pousada da juventude que ficava a uns 13 a 15 mn da “Grande Place” de Bruxelas junto à estação do Metro “Comte de Flandre” (Auberge de Jeunesse - “Génération Europe). Cansados como estávamos decidimos aproveitar resto do dia 28 para dormir, lavar a roupa, ir à internet, isto é, passar umas horas mais caseiras. Fizemos uma boa sesta entre a 18he as 01h! O PM ainda quis saber se eu estava motivado para uma saída à noite em Bruxelas mas a minha oposição silenciosa fora suficiente para encerrar o assunto...
Dormimos que nem uns santos, e assim, pudémos finalmente acordar a tempo do pequeno-almoço oferecido pelas pousadas entre as 07h e as 09h45 + - (meia - pensão). Tínhamos falhado os pequenos-almoços quase por todo o lado onde estivéramos! De seguida, decidimos ir ver 3 ou 4 coisas de Bruxelas. As contempladas foram a “Grande Place”, os edifícios da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu na estação de Metro “Schuman”. O episódio VIII terminou na “Gare du Nord” ( tb existe disso em Bruxelas!) onde eu e o PM seguimos para destinos distintos após um apressado aperto de mãos...
MPaiva
Episódio IX
30.07.2005
Sábado
AMSTERDAO
A sensação de finalmente fazer uma viagem curta de 3 horas e meia foi óptima. Durante 12 dias fizéramos viagens de 10 a 16 horas, as quais eram os nossos únicos momentos de verdadeiro repouso, de vez em quando interrompidos por um ou outro comentário ou momento literário (!)
Amsterdão era a cidade da qual só me lembrava vagamente do aeroporto. Estivera varias outras vezes na Holanda sem visitar essa cidade obrigatória onde, de acordo com uma frase que retive de um placard do museu de historia da cidade, “moram pessoas de pensamento aberto e independente” (tradução + -)
Até aqui nunca houvera problemas de lotação nas pousadas por onde passamos, mesmo não tendo reserva prévia. Cerca de 1 hora após o meu desembarque na cidade, já estava à porta de um “youth hostel”, situado no coração da boémia, convencidíssimo de que bastava pagar para usufruir de tão vital serviço. Até nem fiquei muito preocupado quando ouvi o 1° “we’re full. I’m sorry!”. O próprio recepcionista foi gentil ao facultar-me uma lista de 17 “low budget accomodations” de Amsterdão. Entusiasmado como estava com as 1as impressões da cidade, aventurei-me a andar a pé em busca de abrigo. A 3a negativa comecei a ficar realmente preocupado! Perdera muito tempo a andar por aquelas ruas longas (n° de 0 – 1000 e tais) e não arranjei nada. Decidi então mudar de estratégia e investir alguns euros em chamadas telefónicas. Recebi sistematicamente negativas e à 11a vez reparei que a Sra do pequeno restaurante onde entrara para jantar já se tinha apercebido da situação. Ela comentou qualquer coisa com um rapaz (que julguei ser o filho), do qual percebi “reservation” e “full”! Pensei para mim que ela devia estar a dizer “pobre rapaz!...”. Após uma pausa para o café ganhei coragem para nova tentativa e já havia uma pequena luz ao fundo do túnel. Era um tal de “La Canna”, mais caro que os outros mas ao menos tina lugares. O único pormenor que me preocupou no “La Canna” foi a frase que vinha à frente do nome, entre parêntesis e com três pontos de exclamação – “(also coffeshop!!!)”. Realizei logo que eu não seria um bom cliente e que, como os quartos mais baratos eram colectivos (4 a 8 pessoas) talvez não caísse na simpatia dos meus co- locatários. Mais um telefonema e encontrei finalmente abrigo num tal de “Kabul” a 4 mn do “Central Station” de Amsterdão. O aspecto do quarto era bastante mau e cada novo inquilino que entrava aumentava o sentimento de insegurança geral. A recepcionista tinha-me dito que havia um cofre de alta segurança e gratuito na recepção, caso fosse necessário para pequenos objectos de valor, mas que o conselho que me dava era de levar comigo para todo o lado os meus pertences de valor! Optei por deixar no cofre as 3 coisas que não podia absolutamente perder em Amsterdão: o passaporte, o bilhete/europass de regresso a Paris e... o meu caderno destas viagens, onde escrevo, rasuro, colo, risco...
Sai finalmente para o meu 1° passeio mais descontraído, sem a tralha às costas e com a certeza de que não era desta que ia para debaixo da ponte! Dei por mim a pensar no que tinha corrido mal e a resposta não tardou a aparecer. E que acabara de chegar à cidade das drogas legais e sexo a bom preço, em pleno fim-de-semana! Aquela hora já só me restava o passeio nocturno (+- 22h30). Assim fui ver o famoso negocio do sexo à rua “Oudezidjs Achterburgwal” (?). Foi curioso ver que, de entre os transeuntes/visitantes, havia muitos casais e grupos de raparigas, o que confirma que aquelas montras são verdadeiramente uma das principais atracções de Amsterdão. Acabei a noite no “Rambrandt Plein”, um dos principais quarteirões de bares/discotecas da cidade...
MPaiva
Episódio X
31.07.2005
Domingo
Acordei e, por força do habito, chamei logo pelo PM. Respondeu-me uma voz feminina a dizer qualquer coisa como “they are gone” (?!)...
Realizei então que estava em Amsterdão e que o PM por aquela hora já estava de certeza em solo sueco.
Adivinhava-se um dia mais interessante pois tinha toda a tarde para visitar e passear pelo centro, enquanto que a noite ficaria reservada para o encerramento da viagem e destas férias inesquecíveis. Fui apanhar 10mn de sol à praça de “Dam” (antigo hall de entrada da cidade por volta do sec. XVII) em frente ao palácio real (Koninklijk Paleis) onde um indivíduo que se autodenominou de profeta me surpreendeu com 5mn de catequese. Como estava pouco conversador prometi ficar com a “bibliografia” para consultar mais tarde. Tinha decidido que, do muito que havia para ver, queria ir ver à casa/Museu de Rambrandt(MR)e o Museu de Historia de Amsterdão(MHA) .
Segui então o caminho que ia dar ao MR e, pelo meio, ainda dei uma breve vista de olhos no Alland Pierson Museum (museu arqueológico da Universidade van Amsterdam, UVA). O MR foi uma boa escolha. Pensava eu que se tratava de uma mera residência de familia mas afinal tratava-se da casa onde viveu durante os momentos mais altos da sua actividade artística. Comprara a casa por um valor elevadíssimo para a época (1639) e mais tarde viria a perdê-la por ser um gastador nato. Em 1956 os credores perderam a paciência e ficara-lhe não somente com a casa mas também com toda a colecção de arte e raridades em que investira zelosamente. Actualmente essa sua antiga casa foi restaurada tornando-se num autêntico museu de homenagem a Rambrandt. No final da visita, com momentos guiados e outros livres, concordei que tinha feito um verdadeiro “step back into Rambrandt’s age” como eles dizem. Entretanto fiquei com pouco tempo para visitar o MHA. Ainda assim fui até lá investir nos últimos 20/15 mn antes da hora do fecho dos museus. Deu para reter vagas noções sobre a fundação da cidade e a época de ouro que a cidade viveu no séc. XVII, quando era considerada o centro do comércio mundial.
Muito satisfeito com o rumo que dera à minha tarde, voltei ao “Kabul” para dormir umas duas horas antes da ultima noitada em Amsterdão. Não tinha ainda programa definido mas tinha algumas ideias directrizes: desta vez sair um pouco mais do centro e nunca parar muito tempo no mesmo sitio, a fim de ficar com uma ideia mais panorâmica e diversificada da boémia local. Bem aconselhado pelos locais, apanhei o “tram” (eléctrico) em direcção ao “Leidsplein”. Ao que parecia, tratava-se de outro dos quarteirões rival do “Rambrandtplein” em termos de boémia e actividade nocturna. Tinha todo o tempo do mundo e só eram 22h. Andei por vários bares até estacionar num tal de “Zebra” que, pouco a pouco, foi ficando com lotação esgotada. A onda era mais “hip-hop” e o ambiente nada mau. Por volta das 04h da manhã abandonei o Zebra para ir parar ao “Melkweg” logo a 3mn dali, o qual ao que parece é considerado uma das discotecas mais dinâmicas da Holanda (de acordo com o meu “Visitor’s Guide”, companheiro inseparável em Amsterdão!). Tive que travar um breve paleio com os seguranças porque, normalmente, ninguém mais entra depois das 03h. O argumento derradeiro e decisivo foi o facto de lhes ter dito que voltaria para Paris dai a poucas horas! Tratava-se portanto de mera visita de (re)conhecimento sem intuitos “lucrativos”...
Chegado ao “Kabul” em vez de pôr-me logo pronto para o “check-out” das 10h cai na cama destroçado. O despertador estava ligado mas, para apimentar a estoria , ficou em modo “vibrar”! Resultado: não tocou e depois foi a correria do costume para o metro e depois para o autocarro. Cheguei mesmo no ultimo segundo possível de o apanhar! O motorista ainda resmungou qualquer coisa em holandês mas eu já estava certo de que, mais uma vez, conseguira safar-me...
MPaiva
Episódio I
17.07.2005
Domingo
PARIS
À boa maneira francesa convém, em 1º lugar, definir com rigor o titulo da minha (s) crónica (s).Há pelo menos duas palavras do título que poderiam suscitar dúvidas: "inter-bus" (neologismo de existência duvidosa no vocabulário turístico internacional e que pretendo fazer rivalizar com "inter-rail") e "cabo-verdiano"( língua(s) falada(s) nas ilhas de Cabo Verde que por uma questão de militância entendi assim denominar em detrimento da habitual designação por "crioulo"). Em 2º lugar, gostaria de invocar o contexto: em vésperas da minha despedida do Velho Continente (definitiva?), após uma inesperada dezena de anos, pareceu-me muito oportuno marcar esse tão reflectido momento por um périplo "apressado" mas modestamente diversificado por alguns (re)cantos desse pedaço chamado Europa. À boa maneira luso-cabo-verdiana, a 1ª tentativa de partida falhou, e pôs-a-nu todo o improviso e inconsistência deste meu "mega" projecto. A anunciada partida do dia 15 de julho aconteceu com um dia de atraso e, em vez do Paris - Barcelona, não fiz mais do que atravessar a Cité U e acampar no soalho do quarto do meu amigo Repique, na Casada Holanda, por uma noite. Fracasso total, questão existencial, embaraço, cenário inesperado, clandestinidade... Confirmava-se o teorema matemático segundo o qual " improviso + imprevisto = desenrasca-te" (i + i = d). Ainda assim dei por positivo esse desvio por razoes que só Deus sabe... A propósito, o pic- nic de integração dos ex - RAGs na Casa da H foi um notável sucesso. O nosso conhecido Massy não permitiu que nada nos faltasse... Eram cerca de 19:05 do dia 17/07 quando, finalmente, consegui abandonar Paris rumo a Barcelona, com a impressão de que o improviso não acabara ali mas sim tinha acabado de começar... MPaiva
Episódio II
18.07.2005
2a feira
BARCELONA
A chegada a Barcelona, por volta das 9h da manhã locais, foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Involuntariamente, acabei por viajar durante a noite e ter o dia inteirinho para vagabundear pela cidade. O desembarque na “Estacio de Sants” provocou-me um ligeiro pânico durante uns 15 mn até descobrir que havia um posto de informação/reservas das Pousadas da Juventude da Catalunha no interior da estação. Bastaram uns 10mn a preparar o “dossier” para constatar que tive muita sorte: fiquei mesmo no coração de Barcelona, a 10 mn das praias, num tal de “Ramblas Center”. A situação é um pouco original porque só se pode reservar quartos por uma noite de cada vez. Todas as manhãs, entre o pequeno-almoço e as 11h, haverá uma corrida à recepção a ver quem consegue pfv mais uma caminha por mais uma noite. E caso para dizer “quem bebeu (na noite anterior) morreu...” (Terrakota). Uma das recepcionistas do Ramblas Center era, imaginem, brasileira! Nossa! Que simpatia de miúda! Bastou um dedo de meia-conversa (no meu portu-nhol?) para eu perceber que aquele som soava a Brasil. Desmascarados que estávamos, desatamos a falar em português (só para tentar impressionar a assistência!).
Foi surpreendente perceber que num espaço de 2 horas (9h-11h) tinha poupado imenso tempo e já estava de saco guardado e chave na mão, pronto a partir tranquilo. Servi-me do mapa da cidade oferecido pelo posto de info Pousadas da J para idealizar minimamente a 1a “corrida”.
Eu que nem sou muito do género caça-aos-museus (inculto!) tracei um roteiro equilibrado à minha maneira. Percorri sucessivamente a Torre Jaume I, o World Trade Center, o Port Vell, o Maremagnum, o Museu de Historia da Catalunha, o Passeio Marítimo (que delicia de praias!), a Marina, para depois subir até à Sagrada Família de António Gaudi, à Cidade Universitária de B, ao Camp Nou (estádio do FC Barcelona) e o regresso à baixa exausto.
Eu que até já tinha comprado o bilhete para 1 dia (Metro) logo de manhã, dei por mim a preferir andar mais a pé no meu 1o reconhecimento do terreno. Não posso deixar de sublinhar que foi muito bom o cheiro do Metro de Barcelona (M) – climatizado, limpinho, aparentemente muito melhor frequentado que o nosso querido Metro+RER parisiense! Apetecia-me, de repente, ficar a dormir no M na minha 1a noite em Barcelona. Ah! Os preços até são aceitáveis para quem chega de Paris: kebab a 3,5 euros numa zona de comércio/turismo até não doeu muito e era bem melhor que os do Bld Jourdan (Cité U).
Amanhã chega dos Açores o meu amigo e parceiro nestas viagens, o PM, que vai de certeza animar um pouco mais as minhas crónicas. Estive com ele ao telefone hoje e a coisa promete. Ah! A net é gratuita aqui na residência onde estou mas a fila de putos à espera para ir ao Messenger aconselha pequenos investimentos num cyber-café ca do sitio em vez da perda de tempo...
MPaiva
Episódio III
19.07.20053a feira
Acordei sobressaltado porque lembrei-me de repente que podia ir parar à rua se não conseguisse reservar uma cama para a noite seguinte. Vesti-me de qualquer maneira e desci as escadas 3 a 3 degraus de cada vez. Respirei fundo quando avistei uma vintena de pessoas em frente à recepção e com malas no chão, à espera de um percalço a seu favor. Porém, tudo se resolveu depressa porque afinal de contas existia ainda assim um certo “direito de preferência” para quem já esta alojado. Que alivio!
Decidi que o meu 2° dia ia ser muito pouco cultural. Pensei logo na praia, no sol, e mais tarde num passeio tranquilo pela noite “blaugara”. No trajecto em direcção à praia perdi-me involuntariamente pois, ao contrario do dia anterior, desta vez deixei o mapa em casa convencido que estava de poder reconhecer o caminho. Foi assim que fui parar à Sé de Barcelona e ao Museu da Diocese, os quais aproveitei para dar uma vista de olhos...
A chegada à praia de “Sant Sebastià” provocou-me um largo sorriso, eu que apesar de vir das ilhas há muito perdera familiaridade com aquele ambiente. Pois é, a praia mora longe de Paris! Instalei-me junto a uma barraca que passava um “reggae” delicioso e tinha uma vista melhor ainda. O tempo que voa e foge em Paris ali parecia paciente, compreensivo e respeitador do ócio de todos.
Abandonei a praia já disparado em direcção à residência, tal era a fome que se abatera sobre a minha existência. Já passavam das 19h...
Jantei num cantinho delicioso e acessível ao meu orçamento e jurei tornar-me num cliente assíduo enquanto estivesse por Barcelona.
Eram 22h e qualquer coisa quando recebi o sms mais esperado de todos. Era o meu amigo PM (Mohamed, entre nos) para avisar-me do seguinte: “chego hoje às 23h30 de avião”. Percebi logo que a minha motivação disparara instantaneamente e que a aventura talvez estivesse longe do auge...
MPaiva
Episódio IV
20.07.2005
4a feira
A noite anterior fora longa porque, de entre outros motivos, precisávamos de tempo para pôr a conversa em dia. A ideia de fazer esta viagem nascera em Alcobaça (Portugal) há cerca de quatro anos, numa das nossas aventuras associativas, mas na realidade eu e o PM já não tínhamos noticias um do outro há dois anos. Pouco a pouco fomos fazendo o ponto sobre a situação pessoal de cada um actualmente.
Depois de um prolongado bate-papo na “Plaça Reial” e de umas cervejas espanholas atravessamos “La Rambla” decididos a atirarmo-nos de cabeça na nossa 1a saída à noite digna desse nome. Na véspera fora guardando alguns “flyers” de sítios e festas da zona, de modo a ter algum trabalho de casa já feito. A concorrência é tal que durante toda a noite os bares e clubs da baixa têm pessoas a distribuir “flyers” no meio da rua e nos passeios de forma a desviar o maior numero possível de perdidos ou indecisos.
Experimentamos 1° o “Fellini” e de seguida dois outros clubs do “Maremagnum”. Surpreendentemente, ficamos com a impressão de que o publico presente nestes sítios era bastante mais novo do que imagináramos. Tentamos em vão informarmo-nos de outros sítios mas as horas já não permitiam mais vaidades. No regresso à residência passamos ainda pela sempre frequentada “La Rambla” e pelo “Fellini” mas já não havia nada para ninguém.
A manhã de 4a feira foi portanto passada a descansar na residência. O inicio da tarde foi marcado pelo 1° incidente negativo da viagem: a maquina fotográfica digital do PM ficou esquecida pendurada numa cadeira do restaurante onde tínhamos almoçado. Voltamos cerca de 3 a 4mn depois mas já era tarde demais...
Foi chato não só pela maquina mas também pelas fotos que já tínhamos tirado, entre as quais umas inesquecíveis com Che Guevarra (http://www.elchevive.org/), e pelas reportagens futuras que ficaram assim comprometidas.
Quarta-feira à noite foi borga outra vez: Plaça Reial, Irish Pub, Fellini e outras tantas tentativas...
MPaiva
Episódio V
21.07.2005
5a feira
Depois das desventuras de 4a feira à noite sabíamos que o dia seguinte ia ser curto. Ficamos a dormir a manhã toda deixando para a tarde a visita ao Museu Picasso (http://www.museupicasso.bcn.es/). Valeu muito a pena e deu para perceber ao vivo a grandeza e o génio de Picasso.
Pusémo-nos em fuga do museu porque o check -in para Milão era às 16h30.
MPaiva
Episódio VI
22.07.2005
6a feira
MILAO
A chegada a Milão deu-se por volta das 12h locais. Uma vez mais foi boa a opção de viajar de noite porque a deslocação parece passar-se muito mais depressa. Por entre o descanso e algumas conversas filosóficas ainda deu para espreitar muito ligeiramente cidades como Nice, Perpignan, Montpellier, Génova, Turim...
Ao pisar o solo milanês tive a impressão de ter voltado à estaca zero: sem alojamento, sem programa, caído de pára-quedas...
Felizmente com a ajuda de uns mapas e de alguns (e algumas!) transeuntes muito simpáticos conseguimos em pouco tempo traçar o percurso da estação “Garibaldi F.S” (chegada) até ao centro da cidade (estação “Duomo”) e, de seguida, em direcção à pousada da juventude “P. Rotta” na estação “QT8”.
Ainda de saco às costas paramos no centro da cidade para almoçar “pasta”, andar pelas ruas de comércio e tirar as 1as impressões de Milão. Eu e o meu amigo PM estávamos de acordo sobre o seguinte: se tivéssemos que escolher uma palavra para definir Milão (ou melhor as milanesas) ela teria que ser “elegância” ou “fashion”!
Pelo sim pelo não, fomos ter ao “Largo Augusto” para encontrar uma pessoa do ICEP (Portugal) de quem o PM tinha o contacto. Bela sorte a nossa! Deparamo-nos à mercê de uma açoriana bem bonita que teve paciência para falar-nos durante um vintena de minutos sobre o que vale a pena ou não ver em Milão em dois dias. Melhor “armados” partimos sem dificuldades rever a Catedral de Milão e a “Piazza Duomo” para, de seguida, rumarmos ao “P.Rotta”. Foi um enorme alivio ter de novo uma cama e umas chaves de casa e, ainda por cima, as condições eram bem melhores que as do “Ramblas Center” de Barcelona. Também, é verdade que estávamos, desta vez, um pouco mais longe do centro. Descansamos somente 3 horas porque, como sublinhou o PM, seria imperdoável vir dormir para Milão depois do que viramos lá fora. Foi assim que por volta das 20h30 já estávamos de novo nas ruas para ver sucessivamente as lojas do “Corso Buenos Aires”, jantar pizza no “Maruzzella”, visitar o “Castelo Sforzelo” e o maior parque da cidade situado logo a seguir – o “Parco Sempione”. Foi surpreendente constatar que o parque tinha uma importante vida nocturna, e involuntariamente, fomos parar ao “Bar Bianco” no coração do parque. A tentação de ficarmos por ali era muita mas lá nos decidimos a ir espreitar um tal de “Old Fashion”” que, pelos rumores, seria o ponto de passagem obrigatório.
Bastou avistar o largo de entrada para termos a certeza de que haviamos acertado. O problemas agora era a “guest list”. Valeu-nos a t-shirt do PM que dizia simplesmente “Cabo Verde”; E que o dizer da t-shirt chamara a atenção de um tal de SM que por sinal já vivera no Brasil e agora tornara-se relações publicas na noite milanesa. Tornamo-nos de repente VIPs, com direito a cartão de visita + entrada com recomendação. O PM ficou a dever-me um copo porque horas antes fora eu a aconselhar-lhe a vestir aquela t-shirt em detrimento de uma outra de marca muito mais conhecida...
Eu e o PM que nos gabávamos razoavelmente conhecedores de festas de gala ficamos simplesmente estupefactos e impressionados! Tudo estava bem naquele lugar: o espaço aberto, o publico rigorosamente elegante e bem vestidos, as “ragazzas”, a musica...
O PM não ficou nada satisfeito com o meu ar destroçado do final da noite mas a verdade é que até no “Paraíso” se fica cansado(http://www.oldfashion.it/)...
MPaiva
Episódio VII
27.07.2005
4a feira
VIENA
A nossa estratégia de manter o trajecto em aberto e de não reservar nada previamente sofrera o 1° duro golpe no Sábado (23/07) à tarde em Milão. Tranquilamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, deixamos para a ultima da hora a reserva da viagem Milão-Amsterdão. Azar! Estava tudo cheio e, de repente, tivemos que improvisar mais uma noite em Milão. Como se isso não bastasse foi-nos advertido que a próxima ligação para Amsterdão só teria lugar na 4a feira (4 dias depois!). Mais 4 dias em Milão estava fora dos planos e poderia comprometer definitivamente o resto das viagens. De repente, o critério para a escolha do destino seguinte tornou-se no mais inesperado de todos: agarramos na lista dos autocarros que partiriam de Milão no dia seguinte e escolhemos Viena! Estava traçado o nosso destino para os próximos dias.
Chegamos a Viena cerca das 21h de domingo para recomeçar tudo de novo. Após algum receio e hesitação iniciais, recomeçamos a dar os passos certos: mapa, metro, pousada da juventude, endereços dos sítios interessantes a ver, e alguns breves diálogos com os locais. Pouco depois das 00h já estávamos na rua de novo, depois de bastante bem albergados no 85 da rua “Neustiftgasse”. Mesmo sendo domingo à noite não resistimos a um longo passeio pelo centro da cidade. Apesar dos nomes de difícil pronuncia, demos provas de alguma pratica e sentido de orientação. Voltamos para casa às 05h da manhã, já destroçados e mudos, com a sensação de que já estávamos em Viena há uns 3 dias...
Os dias seguintes foram bastante bons muito por culpa da ajuda de uma amiga austríaca do PM, a S. Entre boémia e tradição fomos ao castelo de “Schönbrunn”, ao “Film Festival” de Viena no “Rathaus Platz” (praça da Câmara Municipal), ao “Museumsquartier”, ao “Stephanplatz” (espécie de centro do centro da cidade), ao “Vienna International Center” (onde fica a sede da ONU- Viena), aos bares da zona central da parte antiga da cidade (junto à Catedral), às feiras de gastronomia do Film Festival e ao “Kactus Bar”, de entre outras coisas. A estadia inicialmente prevista de cerca de 24 horas durou .... 4 dias e 3 noites!
Era isso também que dava mais pimenta e piada à nossa viagem. Se gostamos ficamos sem qualquer compromisso.
O PM não se cansou de me repetir que Viena estava a ser o melhor episódio do “Inter-bus” até ao momento e eu concordei.
Berlim, Praga, Budapeste ou Varsóvia seriam destinos prováveis a partir de Viena. Contudo, por razões que se prendem com o nosso estatuto de não europeu, e com a lista de cidades autorizadas ao Europass, não nos restavam muitas soluções rumo ao Norte da Europa. Berlim, embora sendo zona Schegen, punha-nos na mesma problemas porque o autocarro que partia de Viena passava por outras cidades do Leste onde não podíamos entrar sem visto próprio. Foi assim que decidimos por um desvio até Bruxelas ou Amsterdam para ver e seguir talvez para Stocolmo. Infelizmente, o Europass não nos dava direito ao Viena –Amsterdão directo e, assim, optamos por Bruxelas com partida às 20h do dia 27/07...
MPaiva
Episódio VIII
28.07.2005
5a feira
BRUXELAS
A chegada a Bruxelas demorou mais cerca de 3 horas do que o previsto. O nosso autocarro foi controlado pelo menos duas vezes pelas policias holandesa e alemã, e paramos ainda alguns minutos em Antuérpia. Desta vez fizemos imediatamente a reserva da viagem seguinte para evitar surpresas de ultima hora. Porém, dêmo-nos conta de que Viena - Bruxelas tinha sido a ultima viagem conjunta com o meu amigo PM, pois já só me restavam 3 dias de férias enquanto que ele ainda tinha muitos mais. Assim, de comum acordo, a minha ultima viagem antes do regresso a Paris seria o Bruxelas – Amsterdão, enquanto que ele seguiria ainda para Stocolmo, para ai ficar até ao dia 2 de agosto. Consumada a separação da dupla que tantos episódios animara, ainda tivemos tempo para passar umas 24 horas em Bruxelas porque os nossos autocarros respectivos só partiriam no dia seguinte às 13h30 e 14h.
Instalamo-nos numa pousada da juventude que ficava a uns 13 a 15 mn da “Grande Place” de Bruxelas junto à estação do Metro “Comte de Flandre” (Auberge de Jeunesse - “Génération Europe). Cansados como estávamos decidimos aproveitar resto do dia 28 para dormir, lavar a roupa, ir à internet, isto é, passar umas horas mais caseiras. Fizemos uma boa sesta entre a 18he as 01h! O PM ainda quis saber se eu estava motivado para uma saída à noite em Bruxelas mas a minha oposição silenciosa fora suficiente para encerrar o assunto...
Dormimos que nem uns santos, e assim, pudémos finalmente acordar a tempo do pequeno-almoço oferecido pelas pousadas entre as 07h e as 09h45 + - (meia - pensão). Tínhamos falhado os pequenos-almoços quase por todo o lado onde estivéramos! De seguida, decidimos ir ver 3 ou 4 coisas de Bruxelas. As contempladas foram a “Grande Place”, os edifícios da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu na estação de Metro “Schuman”. O episódio VIII terminou na “Gare du Nord” ( tb existe disso em Bruxelas!) onde eu e o PM seguimos para destinos distintos após um apressado aperto de mãos...
MPaiva
Episódio IX
30.07.2005
Sábado
AMSTERDAO
A sensação de finalmente fazer uma viagem curta de 3 horas e meia foi óptima. Durante 12 dias fizéramos viagens de 10 a 16 horas, as quais eram os nossos únicos momentos de verdadeiro repouso, de vez em quando interrompidos por um ou outro comentário ou momento literário (!)
Amsterdão era a cidade da qual só me lembrava vagamente do aeroporto. Estivera varias outras vezes na Holanda sem visitar essa cidade obrigatória onde, de acordo com uma frase que retive de um placard do museu de historia da cidade, “moram pessoas de pensamento aberto e independente” (tradução + -)
Até aqui nunca houvera problemas de lotação nas pousadas por onde passamos, mesmo não tendo reserva prévia. Cerca de 1 hora após o meu desembarque na cidade, já estava à porta de um “youth hostel”, situado no coração da boémia, convencidíssimo de que bastava pagar para usufruir de tão vital serviço. Até nem fiquei muito preocupado quando ouvi o 1° “we’re full. I’m sorry!”. O próprio recepcionista foi gentil ao facultar-me uma lista de 17 “low budget accomodations” de Amsterdão. Entusiasmado como estava com as 1as impressões da cidade, aventurei-me a andar a pé em busca de abrigo. A 3a negativa comecei a ficar realmente preocupado! Perdera muito tempo a andar por aquelas ruas longas (n° de 0 – 1000 e tais) e não arranjei nada. Decidi então mudar de estratégia e investir alguns euros em chamadas telefónicas. Recebi sistematicamente negativas e à 11a vez reparei que a Sra do pequeno restaurante onde entrara para jantar já se tinha apercebido da situação. Ela comentou qualquer coisa com um rapaz (que julguei ser o filho), do qual percebi “reservation” e “full”! Pensei para mim que ela devia estar a dizer “pobre rapaz!...”. Após uma pausa para o café ganhei coragem para nova tentativa e já havia uma pequena luz ao fundo do túnel. Era um tal de “La Canna”, mais caro que os outros mas ao menos tina lugares. O único pormenor que me preocupou no “La Canna” foi a frase que vinha à frente do nome, entre parêntesis e com três pontos de exclamação – “(also coffeshop!!!)”. Realizei logo que eu não seria um bom cliente e que, como os quartos mais baratos eram colectivos (4 a 8 pessoas) talvez não caísse na simpatia dos meus co- locatários. Mais um telefonema e encontrei finalmente abrigo num tal de “Kabul” a 4 mn do “Central Station” de Amsterdão. O aspecto do quarto era bastante mau e cada novo inquilino que entrava aumentava o sentimento de insegurança geral. A recepcionista tinha-me dito que havia um cofre de alta segurança e gratuito na recepção, caso fosse necessário para pequenos objectos de valor, mas que o conselho que me dava era de levar comigo para todo o lado os meus pertences de valor! Optei por deixar no cofre as 3 coisas que não podia absolutamente perder em Amsterdão: o passaporte, o bilhete/europass de regresso a Paris e... o meu caderno destas viagens, onde escrevo, rasuro, colo, risco...
Sai finalmente para o meu 1° passeio mais descontraído, sem a tralha às costas e com a certeza de que não era desta que ia para debaixo da ponte! Dei por mim a pensar no que tinha corrido mal e a resposta não tardou a aparecer. E que acabara de chegar à cidade das drogas legais e sexo a bom preço, em pleno fim-de-semana! Aquela hora já só me restava o passeio nocturno (+- 22h30). Assim fui ver o famoso negocio do sexo à rua “Oudezidjs Achterburgwal” (?). Foi curioso ver que, de entre os transeuntes/visitantes, havia muitos casais e grupos de raparigas, o que confirma que aquelas montras são verdadeiramente uma das principais atracções de Amsterdão. Acabei a noite no “Rambrandt Plein”, um dos principais quarteirões de bares/discotecas da cidade...
MPaiva
Episódio X
31.07.2005
Domingo
Acordei e, por força do habito, chamei logo pelo PM. Respondeu-me uma voz feminina a dizer qualquer coisa como “they are gone” (?!)...
Realizei então que estava em Amsterdão e que o PM por aquela hora já estava de certeza em solo sueco.
Adivinhava-se um dia mais interessante pois tinha toda a tarde para visitar e passear pelo centro, enquanto que a noite ficaria reservada para o encerramento da viagem e destas férias inesquecíveis. Fui apanhar 10mn de sol à praça de “Dam” (antigo hall de entrada da cidade por volta do sec. XVII) em frente ao palácio real (Koninklijk Paleis) onde um indivíduo que se autodenominou de profeta me surpreendeu com 5mn de catequese. Como estava pouco conversador prometi ficar com a “bibliografia” para consultar mais tarde. Tinha decidido que, do muito que havia para ver, queria ir ver à casa/Museu de Rambrandt(MR)e o Museu de Historia de Amsterdão(MHA) .
Segui então o caminho que ia dar ao MR e, pelo meio, ainda dei uma breve vista de olhos no Alland Pierson Museum (museu arqueológico da Universidade van Amsterdam, UVA). O MR foi uma boa escolha. Pensava eu que se tratava de uma mera residência de familia mas afinal tratava-se da casa onde viveu durante os momentos mais altos da sua actividade artística. Comprara a casa por um valor elevadíssimo para a época (1639) e mais tarde viria a perdê-la por ser um gastador nato. Em 1956 os credores perderam a paciência e ficara-lhe não somente com a casa mas também com toda a colecção de arte e raridades em que investira zelosamente. Actualmente essa sua antiga casa foi restaurada tornando-se num autêntico museu de homenagem a Rambrandt. No final da visita, com momentos guiados e outros livres, concordei que tinha feito um verdadeiro “step back into Rambrandt’s age” como eles dizem. Entretanto fiquei com pouco tempo para visitar o MHA. Ainda assim fui até lá investir nos últimos 20/15 mn antes da hora do fecho dos museus. Deu para reter vagas noções sobre a fundação da cidade e a época de ouro que a cidade viveu no séc. XVII, quando era considerada o centro do comércio mundial.
Muito satisfeito com o rumo que dera à minha tarde, voltei ao “Kabul” para dormir umas duas horas antes da ultima noitada em Amsterdão. Não tinha ainda programa definido mas tinha algumas ideias directrizes: desta vez sair um pouco mais do centro e nunca parar muito tempo no mesmo sitio, a fim de ficar com uma ideia mais panorâmica e diversificada da boémia local. Bem aconselhado pelos locais, apanhei o “tram” (eléctrico) em direcção ao “Leidsplein”. Ao que parecia, tratava-se de outro dos quarteirões rival do “Rambrandtplein” em termos de boémia e actividade nocturna. Tinha todo o tempo do mundo e só eram 22h. Andei por vários bares até estacionar num tal de “Zebra” que, pouco a pouco, foi ficando com lotação esgotada. A onda era mais “hip-hop” e o ambiente nada mau. Por volta das 04h da manhã abandonei o Zebra para ir parar ao “Melkweg” logo a 3mn dali, o qual ao que parece é considerado uma das discotecas mais dinâmicas da Holanda (de acordo com o meu “Visitor’s Guide”, companheiro inseparável em Amsterdão!). Tive que travar um breve paleio com os seguranças porque, normalmente, ninguém mais entra depois das 03h. O argumento derradeiro e decisivo foi o facto de lhes ter dito que voltaria para Paris dai a poucas horas! Tratava-se portanto de mera visita de (re)conhecimento sem intuitos “lucrativos”...
Chegado ao “Kabul” em vez de pôr-me logo pronto para o “check-out” das 10h cai na cama destroçado. O despertador estava ligado mas, para apimentar a estoria , ficou em modo “vibrar”! Resultado: não tocou e depois foi a correria do costume para o metro e depois para o autocarro. Cheguei mesmo no ultimo segundo possível de o apanhar! O motorista ainda resmungou qualquer coisa em holandês mas eu já estava certo de que, mais uma vez, conseguira safar-me...
MPaiva
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